quinta-feira, 27 de junho de 2013

Carta a Cora Rónai a respeito dos médicos estrangeiros

Cora,
Sou seu leitor. Não tão assíduo porque assiduidade não é meu forte. Mas, sempre que leio, gosto. Já lhe disse isso. Talvez você se lembre, o que duvido, frente ao mar de gente que lhe escreve coisas muito mais interessantes.
Mas não posso deixar de lhe escrever. Como despeito, coloco esse texto em meu blog e divulgo no fb. É minha forma de berrar, já que não me resta outra coisa.
Concordo com você no assunto que escreveu hoje. Mas o que acontece de fato, sob meu ponto de vista, é ainda mais grotesco, para não dizer criminoso. Seria cômico, se não fosse trágico.
As pessoas, nas redes, tratam de assuntos conectados de maneira independente, como para que, esquizofrenicamente, não se aperceberem que a coisa é escabrosa, inacreditável. Que descortina o (des)governo que temos.
Toda essa coisa vem de um ministro, ou burocrata do governo cubano, que tem interesse - sabe-se lá por que - em "exportar" seus médicos. Esse senhor convenceu nosso chanceler a "importar" 6.000. Isso mesmo: 6.000 médicos cubanos foram contratados pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil, sem que mais ninguém do governo tenha sido consultado. Foi um ato intempestivo, uma compra por impulso.
Fico imaginando como as coisas ficaram no Palácio do Planalto. Gritos para cá, corridas para lá, no final ficou a coisa encalhada: o que fazemos? Pergunta-se ao comprador o que o levou a ter essa idéia de jerico e ele responde: "Mas eu pensei: o Brasil não um problema sério de falta de médicos no interior? Por que não trazermos esse médicos cubanos que são tão bons? Não tem esse movimento dos prefeitos? Vamos resolver o problema deles." Aí, eu me pergunto. O movimento dos prefeitos gerou essa contratação ou essa contratação que levou ao movimento dos prefeitos? Essa pergunta é melhor que a do ovo e a galinha, que por sinal, já responderam.
Como lá em Brasília as coisas são como o clube do Bolinha, ou Bolinha-Luluzinha, o que passaram a fazer foi achar um meio de mostrar que tudo fora planejado. Lá, ninguém fica sem guarda-chuva. É o que chamam fidelidade partidária (eu pensei em Máfia, mas, até nela, quem faz bobagem "desaparece").
Aí vem nossa "presidenta" e faz um pronunciamento para acalmar a horda enfurecida e anuncia a contratação de médicos estrangeiros.
Ao mesmo tempo, corre por fora a questão do Ato Médico. Está sendo discutido no Congresso a anos. À primeira vista, trata-se de um ato de regulamentação da profissão. No entanto, contém alguns absurdos que sufocam atividades de saúde não médicas e submetem aos médicos atividades de profissionais experientes. Com isso, um médico recém saído de uma residência tem condição legal de contestar o tratamento de um psicanalista experiente. E, com base legal, acusá-lo de charlatanismo, se este não se sujeitar ao que foi prescrito. Uma sujeição por força de lei que lembra os tempos do absolutismo, em que certa classe de gente não teria, jamais, prerrogativas afeitas apenas a uma elite.
Há anos, profissionais sérios da área de saúde não médica lutam para extrair, ou aperfeiçoar esses aspectos do projeto de lei, para que tenhamos uma regulamentação justa, que garanta os direitos e determine deveres dos médicos, sem atropelar atividades idependentes. Encontram resistência nos próprios médicos que, nesse caso, agem de forma corporativa, e na indústria farmaceutica que tem interesse em transformar todos os nossos problemas em uma questão química.
Mas, por força desse "imbroglio" dos médicos cubanos, o governo faz aprovar o Ato Médico no Senado com o objetivo exclusivo de tentar abrandar a "fúria" dos médicos. Como se essa reação fosse apenas dos médicos, não fosse de parte de toda a sociedade. Tudo isso ao arrepio dos direitos de gente muito séria trabalhando na área de saúde, muitas vezes "poupando" pacientes da voracidade da indústria farmaceutica em lhes meter goela abaixo suas drogas de efeito muito duvidoso.
De forma cínica, aproveitam-se da falta de informação. É populista e oportunista trazer a idéia que a saúde vai mal porque faltam médicos, ou esses não querem trabalhar no interior. Isso é desinformação.
Recentemente fui levado a depender do SUS para um tratamento quimioterápico por pílula. Esse tratamento é genialmente fantástico para a saúde do paciente, porque agride pouco e tem eficácia muito superior à quimioterapia tradicional. Mas ele é ruim para bolso. Acho que 99% da população brasileira não teria condições de financiar um tratamento desses. Por isso o SUS representou um papel fundamental para mim. Pude testemunhar, por força da circunstância, a luta surda que é travada no interior das agências dispensadoras do estado e município para evitar o roubo e a corrupção. Gente que arrisca suas vidas para impedir que essas medicações sejam desviadas para o mercado negro. Isso no Rio de Janeiro, capital. Imagina no interior. Isso tem limite. Já, já, voltaremos ao estado de completa dominação das quadrilhas. Gente vai morrer, mas isso não passará de mais um registro policial.
Eu pergunto: isso é falta de médico? Sei de cirurgiões que operam pacientes aidéticos sem proteção necessária. Isso no Rio de Janeiro, capital. É culpa de médicos? Médicos são assassinados por gente revoltada. Isso na nossa zona rural do Rio de Janeiro. Eles merecem?
Resumo, eles lá no Planalto, não dão a mínima para o que acontece na saúde do Brasil. Essa saúde que temos é a que foi organizada por Adib Jatene. Os atuais governantes querem apenas não parecer idiotas, um bando de moleques sem rumo, e dar uma cara de "gente séria". Mais séria que o PSDB, única preocupação que parece lhes afligir.
De seu fã,
J.L.

domingo, 26 de maio de 2013

Veríssimo, o Strangelove das esquerdas

Tem sido difícil ler Veríssimo, ultimamente. Mesmo que, às vezes, me dá pena dele de tantos textos apócrifos que assassinam sua imagem, especialmente no que tange à literatura.
Tem que ver que Veríssimo é gaúcho, isto é, fortemente afetado pelos portenhos, que, entre outras coisas, inventaram o peronismo, uma versão bem particular do populismo cesariano (vejam meu post Os JC's e a maldição dos latinos). Mas, mesmo assim, é difícil aceitar ver esse tão inventivo Veríssimo caído no fanatismo, antes brizolista, e agora petista.
Mas ele se supera em sua coluna de hoje, n'O Globo. Veríssimo comete dois erros tão grosseiros que parece que o editor confundiu-se e publicou um desses textos apócrifos. Nela ele faz uma justa "homenagem" a Henry Kissinger pelo estrago que fez, enquanto no poder. Não discordo. Porém, há quem, no poder, ou fora dele, também provoca estragos. Osama bin Laden, por exemplo. Querem contar quem matou mais? À vontade. Luis Carlos Prestes, pelas bobagens que disse e ordens desastrosas que deu. Querem discordar? Tudo bem. Tem gente que gosta de ser enganada, mesmo. Isso para não falar de Pol Pot, Mao, Stalin, para ficar na esquerda, já que os monstros da direita são facilmente encontráveis nas colunas dos crucificados. Até aí, acho, ou espero, que Veríssimo concorda comigo.
Mas dizer que Kissinger inspirou o personagem Dr. Strangelove, papel título do clássico de Stanley Kubrick! Para começar, o judeu Kubrick não ia pôr um caráter ex-nazista, a imaginar os atos belicistas mais esdrúxulos, como avatar de outro judeu, Kissinger, mesmo esse sendo alemão, mas tendo sofrido perseguição do nazismo. Até onde eu saiba, o filme é de 1964 e, naquela época, Kissinger não era mais do que um obscuro professor de Havard. A inspiração para Dr. Strangelove, baseado no romance de Peter George, Red Alert, de 1958, parece ser um misto de Edward Teller, que liderou o projeto da bomba H e  G. von Braun, o pai dos foguetes V-2. Esse último parece ter inspirado, também, o ex-SS Faulkner no romance Space, de James Michener.
Outro erro crasso de Veríssimo é dizer que Hitler acabou com a inflação na Alemanha. Quem acabou com inflação alemã foi H. Schacht em 1923. Este tornou-se nazista, mas isso foi depois. Hitler arruinou a economia alemã e a Alemanha como um todo. Muito o contrário do que Veríssimo fala.
Veríssimo interpõe comentários do chamado senso comum sem se importar, ou se preocupar com a rigor histórico. Será arrogância ou ele já incorporou a babaquice petista de "re-inventar" a história?

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Síndrome da Reivindicação Sucessiva

Elio Gaspari inverte a orientação do argumento. Usa o conceito da Síndrome da Reivindicação Sucessiva (SRS) para legitimar justamente o se que critica por utilizá-la. E usa, primeiramente, uma argumentação irrefutável em cima de uma tese que todos concordam. Por exemplo. Elio sustenta a tese da contratação de médicos estrangeiros. Diz que o argumento SRS contra a medida é que o SUS deve ser reformulado. Mas, antes, cita a corrupção política. Ataca a SRS como insustentável.
Pois é. Quem é contra que os corruptos devem ir para a cadeia, senão os próprios beneficiados? O raciocínio, assim, já está ganho. Diante desse caso evidente o leitor tende a considerar o próximo caso como da mesma ordem exdrúxula. Como a contratação de médicos estrangeiros não é boa? Isso só pode vir de gente corrupta que está se beneficiando disso.
Errado, Sr. Gaspari. Enquando o senhor usa o termo Reivindicação Sucessiva, na verdade está citando, no caso da corrupção, um caso de "cortina de fumaça". Reivindicação sucessiva é: "as pessoas têm o direito de saquear um supermercado porque estão com fome". Ou então: "as pessoas têm o direito de tocar fogo em tudo o que vêem porque aumentaram abusivamente a passagem".  Reivindicação sucessiva é usar um julgamento subjetivo para justificar uma ação normalmente tida como inaceitável. Na justiça criminal, é o argumento do ato "sob forte emoção". Quem vai julgar a "forte emoção", ou o motivo que a provocou? Esse motivo provoca sempre forte emoção?
Outro expediente que Gaspari usa é escolher o argumento contrário mais fraco para sustentar suas opiniões. Gaspari usa a Reivindicação Sucessiva para defender suas idéias. "As pequenas comunidades sofrem com falta de médicos". Pronto. O fato sustenta o ato inaceitável. "Vamos meter médico estrangeiro para resolver o problema". O pior, é que a idéia encontra simpatia. Afinal, os americanos não cresceram em tecnologia trazendo técnicos alemães? Como pode as pessoas não concordarem com isso? Só os que são ameaçados com a medida!
Como os argumentos atuais estão se parecendo, ainda, ou cada vez mais, com os da década de 60!

sábado, 23 de março de 2013

Roteiro para uma cena urbana no Rio de Janeiro

Tempo: atual

Local: avenida nas imediações do Maracanã, carros jogados, queimados, a fumaça espalha-se por todo canto, alguns focos de fumaça preta aqui e ali. Policiais se retirando. Figurantes em roupas sujas, rotas. Ouve-se gente tossindo.

Maquiagem: pessoas com manchas cinzas e pretas, pelo corpo e rosto, descabeladas, algumas descalças. Uns estão sentados no chão, outros ajoelhados, todos estão prostrados.

Sons de sirenes e ruídos de veículos oficiais ao fundo, mas não muito alto. O clima é de desolação.

Uma figurante, de preferência feminina, no meio das pessoas, mas não escondida, sentada no chão, uma perna dobrada de maneira a manter o joelho acima e a o outra perna, também dobrada, de forma a manter o joelho próximo ao chão, seio nú, comenta, consternada:
- Acabou! A polícia invadiu, tomou tudo. Nossos amigos foram desalojados. Fomos agredidos, alguns de nós estão presos, fomos aviltados. O que faremos agora?

Um outro figurante, sexo indiferente, não ao lado, mas no mesmo bolo, propõe:
- Vamos aplaudir o pôr do sol no Arpoador?!

Coro: - Vamos!

Pano, rápido!

Detalhe: deu praia naquela tarde.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Os JC's e a Maldição dos Latinos

Dois sujeitos têm importância crucial na vida ocidental moderna e, particularmente, representam a maldição mais terrível do mundo latino, em especial, latino-americano. Ambos são conhecidos pelos cidadãos contemporâneos por nomes iniciados por "J" e "C", muito embora, originalmente, não eram chamados assim, pelo menos em forma completa.
Por volta do século I aC, cruzam os portões para o interior de Roma, hordas de soldados em formação. Seu comandante: Gaio Julius Caesar. Até aquele momento, jamais um cidadão romano havia adentrado Roma como militar.
César vinha de uma vitoriosa campanha na Gália. É preciso dizer que os romanos detestavam os gauleses. Em tempos passados gaulês era sinônimo de fustigação, invasão, saque e pilhagem. Definitivamente, os gauleses não eram simpáticos aos romanos. Conquistar a Gália, portanto, era um símbolo de vitória e dominação. Saber que os gauleses tinham sido submetidos foi motivo de grande alívio, alegria e sentimento de revanche. Só por isso César já passaria para a História como grande general.
Roma começava a viver períodos conturbados em sua república. Os cônsules se revezavam sem conseguir se firmar no poder, a corrupção imperava, intrigas enfraqueciam o senado. César aproveita-se dessa situação e o promove o primeiro golpe de estado militar da história de Roma. César se instala como ditador. Para se legitimar no poder anistia e atrai oponentes, perdoa quem se opôs ao golpe, entre eles Marcus Junius Brutus, órfão de um herói de guerra e filho de uma das amantes de César, que o toma como padrasto. Além disso massacrou tentativas de reversão, perseguiu Pompeu até este ser assassinado em traição.
Para se legitimar no poder tomou uma série de iniciativas. Determinou um salário para todos os cidadãos, premiou legionários fiéis, nomeou populares para o senado. Aos olhos de hoje, César seria um populista. Para dizer a verdade, acho que César foi o primeiro populista da história.
Suas iniciativas enfureceram a elite romana e não foi difícil planejar seu assassinato. Sua morte provocou uma comoção popular tão grande que fez os senadores romanos temerem por suas vidas.
Cerca de meio século depois, nasceu, em Belém, na Palestina um garoto, filho de uma família abastada, chamado Iuosha. Há muita polêmica sobre a origem desse bebê. Historiadores sustentam que o mais provável é que Maria, uma adolescente, teria sido estuprada por um soldado romano. Grávida seria morta por apedrejamento, pena, na época, naquelas bandas, imputada às mães solteiras. José, carpinteiro, viúvo, idoso, amigo da família, se dispôs a casar com ela para evitar sua morte. Parece que esse mito da Concepção viria depois, em amálgama com as desculpas por Iuosha ter nascido tão cedo após o casamento.
Desde garoto, Iuosha mostrou-se um prodígio. Capaz de ler as escrituras, coisa que só os abastados poderiam, já discutia com rabinos os textos sagrados. Adulto, aparentemente, Iuosha se tornou um curador, espécie de médico sem chancela. Revoltado com a ostentação dos renegados como Herodes, o rei da Galiléia, diante de uma miséria atroz, Iuosha se notabilizou por discursos e pregação pelos pobres, contra os ricos que se aproveitavam do domínio romano. Sua atuação amealhou seguidores e ameaçou os rabinos renegados. Iuosha entrou montado numa mula pelo portão leste de Jerusalém, na véspera da Páscoa judia. Esse ato tinha uma significação especial, pois pelas escrituras o Messias faria isso. Notem o simbolismo dessa entrada pelo portão de Jerusalém e de César com seu exército. O resto é o que se sabe.
Foi o grego Saulo de Tarso, depois Paulo, quem iniciou a pregação dos pensamentos de Iuosha Messiah, como era chamado, para fora da Palestina. Paulo chamava, por equívoco, Iuosha de Jesus e o cunhava de "O Cristo" termo grego para o aramaico Messiah, que quer dizer "o ungido".
Curiosamente, foram os romanos que espalharam a religião cristã para o mundo. Após a revolta de Massalah, em vez de massacrar todos os palestinos e destruir tudo o que encontravam, que era a pena que os romanos reservavam para os revoltosos, nesse caso, porque Vespasiano precisava de dinheiro para financiar a construção do Coliseu, os soldados trouxeram os judeus como prisioneiros e os venderam como escravos. Escravos, os judeus em Roma, pregavam as palavras de Jesus Cristo.
Poderíamos dizer que Jesus Cristo deu base teórica ao populismo.
Outro JC. Enquanto um, imperador, teve a imagem imbuida de tal força que os imperadores que se seguiram em Roma eram chamados de César, na região da germânia, apareceu a figura do Keiser (Kaiser), na Rússia, a figura do Csar. Ambos derivados do imperador romano. César também é considerado o maior estadista do mundo ocidental.
Desde então, nós latinos, repetimos de forma mórbida, neurótica e obsessiva o que fez Júlio César. Ditadores se revezam e baseiam seus atos na repetição do que fez Júlio César e disse Jesus Cristo. Assim como o neurótico não se livra da cena daquilo que ele interpretou como estupro, nós, os latinos, não nos livramos da cena do estupro a Roma, através da penetração das divisões do exército romano. Repetimos e repetimos. Não saímos disso. Sempre irá aparecer multidões de fanáticos seguidores, dispostos a matar ou morrer pelo "César" de plantão.
Como Sísifo, rei de Corinto, foi condenado a empurrar uma grande pedra montanha acima para, lá chegando, ver a pedra rolar de volta para baixo, e assim, ter de recomeçar, nós, os latinos, estamos condenados a assistir, eternamente o aparecimento de ditadores, caudilhos e usurpadores a repetir o populismo de Júlio César.
Não há cura, pois Freud tratou dos indivíduos neuróticos, mas nada comentou acerca do tratamento às sociedades neuróticas. Péron, Vargas, Fidel, Chaves, Brizola, e, por que não?, Lula, são diferentes versões, algumas grotescas, do grande Júlio César. É preciso notar que, após César, Roma nunca mais recuperou a democracia. Alcançou alguma prosperidade, mas a república estava caída de morta. O populismo foi praticado por, literalmente, todos os imperadores e ditadores que dominaram Roma, após Júlio César. Mesmo Nero, que parece, não era tão mau como pintado por seus detratores.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Miss Bixete, outros babados e babaquice do trote no Brasil

Eu digo sempre que nossa maior característica é a macaquear os americanos e depois renegá-los. Um exemplo é a instituição do trote nas universidades brasileiras. Isso não existe na Europa. Se existe, o trote não passa de um conjunto de tarefas, espécie de gincana, que não varia de ano a ano. Levantar dinheiro para alguma instituição de ajuda ao terceiro mundo, sem a estupidez de pintura, cortes de cabelo e outras humilhações, é uma das coisas que, eventualmente, acontece por lá.
A origem do trote vem dos Estados Unidos. E, sob todo e qualquer aspecto, é muito, muito diferente em caráter e execução.
Para começar, ninguém é submetido a qualquer tipo de constrangimento quando chega ao campus. Há uma apresentação de responsáveis, que, na maioria das vezes, são veteranos, que se encarregam de dividir acomodações e outros tipos de providências para a instalação do calouro.
Uma característica adicional se apresenta. Existem as "irmandades". Cada universidade tem, por tradição, um conjunto delas com nomes, brasões e sedes extra-campus e, via de regra, se eternizam em sua vida, se acaso você chegar a fazer parte de uma delas.
É daí que vem o chamado trote brasileiro: para ingressar numa irmandade, privilégio nunca dado a calouro da universidade, você deve, depois de apresentar uma certa performance curricular e/ou econômica, se submeter a algumas tarefas mais ou menos esdrúxulas e/ou humilhantes. Quem viu "A Rede Social", que apresenta o processo de criação do Facebook, sabe da "tarefa" do brasileiro Ricardo Savarin para entrar em uma dessas irmandades da Universidade de Harvard: cuidar de uma galinha. Há outros filmes que mostram que para entrar em certas irmandades você teria de lutar um corpo a corpo com outros pretendentes em uma "caldeirão de m...".
Cada "calouro" tem um "padrinho" veterano. Na menção daquele desistir, esse se apresenta para incentivar a continuar, pois as "vantagens" que virão compensam em muito o quê se está passando. E não estão mentindo. Dentro daquilo em que acreditam, para eles, as vantagens são compensadoras.
E mais, as irmandades nunca são mistas. Há as masculinas e as femininas. Portanto, por mais esdrúxula que seja a tafera, ela nunca envolve humilhação de caráter sexual. E se, por acaso, você não se candidatar para o ingresso de nenhuma irmandade, você nunca será obrigado a se submeter a uma dessas provas. A pena é não ter o direito de gozar de certos privilégios que as irmandades garantem a seus membros: desde os mais mundanos, como participar de festas regadas a "grouppies muito a fim" dos membros daquela irmandade, até o direito de participar de confrarias e obter seus privilégios econômicos e sociais para o resto da vida. Diz a lenda que a CIA foi criada pelos membros de uma dessas irmandades de Princeton.
E no Brasil? O que acontece? Como sempre, tendemos a copiar a forma, esquecendo o conteúdo. Não existem irmandades, não existem privilégios, não existe conceito de grupo. Um bando de babacas recalcados se acham no direito de humilhar, agredir e constranger. Calouros suficientemente deslumbrados com a nova condição que se descortina aceitam tudo isso na base do "está por conta". Alguns deles irão se manifestar na mesma babaquice nos anos seguintes. E assim "la nave va..."

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Joesley Batista X Warren Buffet

Cada povo tem o bilionário que merece. Os ricos representam o poder. O poder é frequentado por todo tipo de arrivista (por que não incluir rico nessa classe de gente?). O que leva essas pessoas a correr atrás do poder como cão atrás de cadela no cio é assunto para outros cantos. O fato é que é assim. Digamos que se há poder é porque há esse tipo de gente. Cada sistema político  e econômico define os poderosos. Na França da monarquia absolutista tínhamos um acervo de múmias mal ajambradas, sado-maso-pedófilas, muito bem descritas por Sade, o marquês viceralmente antimonarquista que se decepcionou com a Revolução, e por isso passou a maior parte de sua vida na cadeia ou em hospícios. Na Roma antiga, os poderosos eram gente que de tão rica, acabou se perdendo em intrigas palacianas que levaram Roma à total decadência. Mas, foi lá que se criou os modos aristocráticos que hoje vicejam na Grã-Bretanha, que, apesar da monarquia, criou um império, que mesmo desfeito, faz dos britânicos os "pais" da cultura moderna.
Nos EUA, a terra das oportunidades, onde há comunidades que proibem a entrada de agentes, sejam eles federais, estaduais ou municipais, onde se tem liberdade tanto para morrer de fome, quanto para acumular tanta riqueza quanto se possa, há milionários, bilionários, poderosos de todo tipo e comportamento. Caracterizam-se pelos hábitos mais excêntricos e esquisitos, tais como doar tudo que têm, ainda em vida, para instituições que cuidam, por exemplo, de ratinhos do deserto do Novo México, usualmente, presas de coiotes, com o único intuito de salvar estes. Há, inclusive, bilionário que deixa, previamente, US$ 1 bilhão para os filhos e todo o resto (e põe resto nisso) deixa para instituições de ajuda aos famintos africanos. Depois, com os parcos dólares que lhe restam, usa a crise de origem imobiliária para  ficar bilionário de novo. Trata-se de Warren Buffet.
Pelo que se lê de Elio Gaspari hoje, Mr. Buffet é um sujeito legal, se comparado com o "nosso" Buffet, esse Joesley Batista, dono da nossa cerveja, da metade dos hamburgers dos States e Europa e agora, pelo visto, das salsichas, mostardas e ketchups do mundo inteiro. Eu não conheço nenhum dos dois. Pelos meus critérios de simpatia, tenho uma intuição de que não suportaria nenhum deles. Tenho uma regra que diz que quanto mais canalha, mais o sujeito se apresenta como bom samaritano. Mas isso não tem a menor importância. O que se compara aí, é que esse Joesley usa e abusa do BNDES. O BNDES, pelo que entendo, é um subproduto da ditadura militar, de um grupo de liberais nomeados por Castello Branco, o primeiro ditador, e que, com um poder que nenhum liberal aceitaria, criaram o BNDE (na época sem o "S" do social, que nem os pêlos do bigode do Sarney) e a Correção Monetária. Essa tornou-se um dos maiores processos de realimentação da inflação, já prescrita (mas não eliminada) e aquele foi aproveitado pela demagogia festiva dos socialistas-nacionalistas da atualidade.
Elio Gaspari sustenta que o nosso Buffet não se "compara" com o modelo pois ele não "sobreviveria" sem o BNDES. O Elio não fala é que uma instituição como o BNDES, nos moldes do BNDES é impensável nos States. A simples menção de um banco que usa recursos públicos para financiar projetos privados a juros subsidiados seria motivo suficiente para se prender o autor da idéia como propagador do comunismo.
Cada poderoso é fruto de seu meio. Warren Buffet, se fosse brasileiro se chamaria Joesley Batista. Porque ninguém minimamente racional dispensaria o apoio do BNDES e de todas as leis protecionistas, paternalistas, clientelistas, cabretistas que vicejam por nossas terras. Nunca teremos Warren Buffet, Steve Jobs, Bill Gates ou Henry Ford. Teremos, pelo resto de nossas brasileiras existências, um desfilar de espertalhões pintando de empresários cuja maior virtude é a de copiar o que os outros fazem. E até nisso eles perdem para os chineses.
E o governo do PT? Preocupado em impor interesses sindicalistas para quem se beneficia do crédito do BNDES. Preocupado em fechar as contas através de artifícios contábeis.
Bom mesmo, é a política de cotas, coisa que os americanos já viram que não funciona e já acabaram com isso. Mas, no Brasil, ah!, é isso o que vai democratizar tudo. Os picaretas se apresentando como empresários vão mudar de cor. Mas aí, tudo bem! Ups! Arrisco, aqui, de ser processado como racista. Não pessoal! Eu me enganei. Os empresários quando forem negros serão ótimos. Black is beautiful!

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O Sucateamento da Petrobrás

Prejuízo da Petrobrás: R$ 54 bi; aparelhamento; ineficácia; prejuízo. O manual do sucateamento. Antigamente dizia-se que o governo está "abandonando" a estatal com o fim de privatizá-la. Não é o que estão fazendo agora?

domingo, 27 de janeiro de 2013

Tragédia em Santa Maria - RS

Todo mundo consternado. Todo mundo chorando. Mas, as palavras de especialistas dizem que a tragédia poderia ser evitada. Dá para antever o que vai acontecer: Presidente(a) consternada presta solidariedade às famílias das vítimas. Ministro diz que vai sugerir legislação mais dura. Prefeito diz que vai apertar fiscalização. O dono da boate vai fugir. Promotor vai denunciá-lo por homicídio doloso. Porém ele vai se safar, acusando a empresa de segurança. A empresa de segurança vai dizer que sempre obedeceu todos os preceitos da lei e que os papéis estavam em ordem. Os oficiais dos bombeiros e agentes dos órgãos oficiais vão ser processados. Vão pagar os advogados com o dinheiro que arrecadaram das "ajudas de custo". Vão ser condenados a uns anos de cadeia e vão cumprir em liberdade ou vão sair depois de uns dois anos por bom comportamento e por progressão de pena.
Os parentes das vítimas vão criar uma associação, vão fazer cerimônias nos aniversários da tragédia e reclamar que ninguém, ainda, não terá sido responsabilizado.
Juristas vão sugerir leis para "corrigir" a "falha legal" e o Congresso vai aprovar leis draconianas que vão penalizar ainda mais os que já obedeciam as leis regularmente.
Outras tragédias como essa poderão acontecer, porque o que devia ser feito nunca foi e nunca será feito.
Brasil, um país (quase) de todos.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Assassino de grávida era presidiário solto em progressão de pena

Parece que o assassino da grávida em São Paulo devia estar na cadeia, mas, por uma "falha", o sistema prisional deixou ele ir para a rua. O assassinato tem contornos cruéis. Era um assalto. Não houve rendição, não houve pressão nem sobressalto. O assaltante simplesmente resolveu apertar o gatilho. Nem viu se era grávida, se era homem, se era criança ou adulto. Atirou, simplesmente.
Eu não sei se já escrevi uma coisa a esse respeito. É sobre o foco das preocupações dos juristas e jurisprudentes brasileiros. Quando ouvimos eles falarem, mostram-se muito preocupados com o destino dos infratores. Defendem que falta educação aos marginais, como se educação trouxesse a virtude. Platão já defendia isso mas parece que essa idéia não tem eco nos filósofos de hoje que a taxam de idealismo. Parece que idealismo é idéia corrente entre nossos juristas. Eles falam da "cabecinha" das crianças e adolescentes delinquentes, que não é a mesma coisa da dos adultos, falam de "nova oportunidade", de direitos legais, de direitos humanos etc etc.
Tem que considerar que as condições das prisões brasileiras já seriam motivo suficiente para se achar qualquer razão para não deixar quem quer que seja lá dentro. As maneiras que certas polícias têm para arrancar confissões também dá uma idéia de que muita gente vai presa em condições que em qualquer lugar decente seriam consideradas um atentado aos mínimos preceitos de respeito à vida, que seja humana ou animal. Também é incontável o número de gente que está presa sem nada ter feito, seja porque houve falha de investigação, seja por homonomia. Tem razão toda essa linha de argumentação, a prisão, no Brasil, não serve nem para animal.
Mas eu chamo a atenção para um detalhe que escapa dentro de toda essa loucura. Como sempre digo, o brasileiro acha que, por ser conterrâneo de Deus, também pode escrever certo por linhas tortas.
Precisamos consertar o sistema policial, dar à polícia um caráter independente e profissional (rendimento compatível faz parte). Precisamos consertar o sistema prisional. Precisamos ampliar e democratizar o sistema judicial e dar consistência e coerência ao sistema legal. Em vez disso, inventamos leis esdrúxulas, procedimentos irracionais e, principalmente, nos esquecemos do inocente.
Inocente é aquele que não fez nada para ser colocado em situação constrangedora. Não procurou confusão. Pelo contrário. Transita pacato para lá e para cá, indo e voltando do trabalho, da escola, da academia, do cinema, do lazer. O inocente é a vítima do crime, da bala perdida, das perseguições em via pública, das guerras por território do tráfico. Ninguém se foca no inocente. Ele não cometeu nenhum delito, mas é obrigado a assoprar num bafômetro sob pena de ser considerado suspeito e obrigado a provar inocência. Ele não sabe que a tranquila rua por onde passa é perigosa e infestada de assaltantes. Ele é anônimo, por isso, ninguém o contabiliza. Ele só ganha nome depois de morto ou agredido. Aí é tarde, ninguém pode fazer nada por ele.
Um governador ou presidente, secretários de segurança, ministros de justiça, em deixando o sistema presidiário brasileiro nas condições que se encontra deveriam ir, eles, para a cadeia. Todo dia eles infringem a lei. Todo dia eles são coniventes e cúmplices de um sistema perverso e cruel. Mas ninguém se mexe. Lei existe. Por analogia pode-se criar, tranquilamente uma jurisprudência a respeito. Basta começar. Autoridade que não faz nada para mudar esse estado de coisas deveria ser processada por omissão de socorro e mandante de crime contra a humanidade. Mas o que vemos? Gente aplaudindo, gente apoiando. O invés, alivia-se, também, o quanto possível, o sofrimento do infrator.
O sistema judicial brasileiro se preocupa com o destino do marginal, do deliquente, do bandido. Considera as condições que eles viveram, vivem e vão viver nos presídios. Quer amainar seu sofrimento. Já o inocente não tem lugar nas preocupações de nossos juristas.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Procurador Geral é chegado em resumos

Deu no Elio Gaspari que o nosso atual Procurador Geral, Roberto Gurgel, declarou que o mensalão era "muito maior, muito mais amplo, do que aquilo que acabou sendo objeto de denúncia". Sei não, mas isso tem cara de usurpação, não? O procurador não decide somente o que é crime e o que não é. Ele decide também qual crime será julgado e qual será esquecido. Ele decide pelo juiz quem é absolvido e quem não é. Isso tá certo?

sábado, 12 de janeiro de 2013

Diretora da CAPES liga para bolsista em Londres

A diretora da CAPES para Relações Internacionais, Denise-não-sei-quê, ligou para bolsistas de Ciências sem Fronteiras e perguntou se elas queriam retornar ao Brasil, depois de se queixarem de atrasos no pagamento da bolsa. Quem esteve lá fora, dependendo de órgãos de financiamento sabe o que significa atraso no fornecimento de bolsa. Você está em país estranho, geralmente num ambiente de maior cobrança cultural, está só, sem amigos, sem parentes. Além disso vive sob suspeição ambiente por ser estrangeiro e pelas eventuais presepadas de patricios, ou não, que por ali passaram anteriormente e deixaram memória no local.
Vivemos com bolsa da CAPES nos anos 80 em Paris. Aprendemos o que é competência de gestão (da CAPES, Banco do Brasil, e ministérios afins) sob regime da ditadura militar, da "democratização" da direita de Tancredo, da demagogia de Sarney na base das angústias de receber ou não, de atrasos, de "adiantamentos" (sim, na ditadura a CAPES atrasava mas também adiantava, sabendo do atraso futuro). Tivemos regularidade apenas no breve período da "direita" do ministério Tancredo.
Agora, sob a "democracia" PT o que temos? A tal Denise se encarrega de censurar quem reclama de atraso de pagamento. Manda "voltar" se não está contente. Isso, em mim, dá nojo. A dona Denise não sabe o que é viver assim. Muitos pensam que as pessoas lá fora estão no bem-bom. Ninguém se lembra que as pessoas lá fora passaram por uma seleção, a menos que o PT tenha "mudado" os critérios. E pasmem, a grande maioria (mesmo os que foram "nomeados", apesar de poucos, na época) está comprometida com sua atividade, quase missão, na volta, para melhorar o Brasil. São membros de uma elite que queremos comprometida com o bem-estar do povo brasileiro. Dona Denise-não-sei-quê estaria melhor no departamento de censura, daqueles de antes de 86. Estaria bem num desses DOI-CODIs da vida, que matou Rubens Paiva. Sai da CAPES Dona Denise! Lá é lugar para obstinados que lutam por um Brasil mais civilizado, como aqueles com quem tínhamos contato quando, na década de 80, em plena ditadura militar, nos pediam desculpas por não nos pagarem em dia. E assim vivíamos resignados em nosso dia-a-dia de fome, quando esperávamos nosso filho de 3 anos acabar de comer para dividirmos o que restou da carne do jantar. Tudo isso para nos especializarmos e trazer um pouco de know-how ao Brasil.
Vai ser inquisidora nos inúmeros módulos ideológicos do PT espalhados pelo Brasil, Dona Denise. E deixe a nossa elite intelectual lutar pelo futuro em paz!