Cora,
Sou
seu leitor. Não tão assíduo porque assiduidade não é meu forte. Mas,
sempre que leio, gosto. Já lhe disse isso. Talvez você se lembre, o que
duvido, frente ao mar de gente que lhe escreve coisas muito mais
interessantes.
Ao mesmo tempo, corre por fora a
questão do Ato Médico. Está sendo discutido no Congresso a anos. À
primeira vista, trata-se de um ato de regulamentação da profissão. No
entanto, contém alguns absurdos que sufocam atividades de saúde não
médicas e submetem aos médicos atividades de profissionais experientes.
Com isso, um médico recém saído de uma residência tem condição legal de
contestar o tratamento de um psicanalista experiente. E, com base legal,
acusá-lo de charlatanismo, se este não se sujeitar ao que foi
prescrito. Uma sujeição por força de lei que lembra os tempos do
absolutismo, em que certa classe de gente não teria, jamais,
prerrogativas afeitas apenas a uma elite.
Há anos,
profissionais sérios da área de saúde não médica lutam para extrair, ou
aperfeiçoar esses aspectos do projeto de lei, para que tenhamos uma
regulamentação justa, que garanta os direitos e determine deveres dos
médicos, sem atropelar atividades idependentes. Encontram resistência
nos próprios médicos que, nesse caso, agem de forma corporativa, e na
indústria farmaceutica que tem interesse em transformar todos os nossos
problemas em uma questão química.
Mas, por força desse
"imbroglio" dos médicos cubanos, o governo faz aprovar o Ato Médico no
Senado com o objetivo exclusivo de tentar abrandar a "fúria" dos
médicos. Como se essa reação fosse apenas dos médicos, não fosse de
parte de toda a sociedade. Tudo isso ao arrepio dos direitos de gente
muito séria trabalhando na área de saúde, muitas vezes "poupando"
pacientes da voracidade da indústria farmaceutica em lhes meter goela
abaixo suas drogas de efeito muito duvidoso.
De forma
cínica, aproveitam-se da falta de informação. É populista e oportunista
trazer a idéia que a saúde vai mal porque faltam médicos, ou esses não
querem trabalhar no interior. Isso é desinformação.
Recentemente fui levado a depender do SUS para um tratamento quimioterápico por pílula. Esse tratamento é genialmente fantástico para a saúde do paciente, porque agride pouco e tem eficácia muito superior à quimioterapia tradicional. Mas ele é ruim para bolso. Acho que 99% da população brasileira não teria condições de financiar um tratamento desses. Por isso o SUS representou um papel fundamental para mim. Pude testemunhar, por força da circunstância, a luta surda que é travada no interior das agências dispensadoras do estado e município para evitar o roubo e a corrupção. Gente que arrisca suas vidas para impedir que essas medicações sejam desviadas para o mercado negro. Isso no Rio de Janeiro, capital. Imagina no interior. Isso tem limite. Já, já, voltaremos ao estado de completa dominação das quadrilhas. Gente vai morrer, mas isso não passará de mais um registro policial.
Recentemente fui levado a depender do SUS para um tratamento quimioterápico por pílula. Esse tratamento é genialmente fantástico para a saúde do paciente, porque agride pouco e tem eficácia muito superior à quimioterapia tradicional. Mas ele é ruim para bolso. Acho que 99% da população brasileira não teria condições de financiar um tratamento desses. Por isso o SUS representou um papel fundamental para mim. Pude testemunhar, por força da circunstância, a luta surda que é travada no interior das agências dispensadoras do estado e município para evitar o roubo e a corrupção. Gente que arrisca suas vidas para impedir que essas medicações sejam desviadas para o mercado negro. Isso no Rio de Janeiro, capital. Imagina no interior. Isso tem limite. Já, já, voltaremos ao estado de completa dominação das quadrilhas. Gente vai morrer, mas isso não passará de mais um registro policial.
Eu pergunto: isso é falta de médico? Sei de cirurgiões que operam pacientes aidéticos sem proteção necessária.
Isso no Rio de Janeiro, capital. É culpa de médicos? Médicos são
assassinados por gente revoltada. Isso na nossa zona rural do Rio de
Janeiro. Eles merecem?
Resumo, eles lá no Planalto, não dão a
mínima para o que acontece na saúde do Brasil. Essa saúde que temos é a
que foi organizada por Adib Jatene. Os atuais governantes querem apenas
não parecer idiotas, um bando de moleques sem rumo, e dar uma cara de
"gente séria". Mais séria que o PSDB, única preocupação que parece lhes
afligir.