domingo, 12 de abril de 2009

Cursinhos já se adaptam ao ENEM

O ministro Haddad acha que o ENEM vai acabar com os cursinhos. Dá prá não rir? Ele acha que a existência dos cursinhos (essa anomalia brasileira) se deve aos vestibulares. Não é. Se deve ao baixo padrão de ensino. Ou estou errado?

Remoções que salvaram a paisagem da Lagoa

O Globo mostra como seria a Lagoa Rodrigo de Freitas se não tivesse havido remoção das favelas em seu entorno. Ficaria feia, embora ainda haver gente que vê beleza nesses "urbanismos". Não bastou remoção, tiveram que reprimir novas tentativas de favelização. OK. Mas, também, não falam do "outro" lado. Para onde levaram as pessoas das favelas? Para a Cidade de Deus. Que virou filme referência de como se cria comunidade sem eira nem beira. Remover, só leva o problema para mais longe.

sábado, 11 de abril de 2009

Paulo Casé e o Hotel Le Méridien

Foi Paulo Casé quem projetou o prédio do Hotel Le Méridien em Copacabana? Ah bom! Tá explicado o que ele fez no "Bar Vinte". Para detalhes do Hotel Le Méridien veja o artigo Sombra de Prédios e Torres em Cidades e de Montanhas na Região Rural.

Adriano e Ancelmo Góis

A turma de Ancelmo Góis ficou (assim como outros tantos) indignada com a atitude de Adriano sustentando que é "mais feliz na favela do que na Itália". Talvez, impregnada com a mentalidade corrente, a turma de Ancelmo não perceba o real problema da favelização do Brasil.
Uma vez, quando morava em Paris, na década de 80, comentei, na mesa do refeitório de onde trabalhava, que a pobreza no Brasil tinha um ingrediente a mais que a pobreza vivida pelos europeus do século XX, em ambos os pós-guerras. "Precisamos ver o quanto as pessoas se apegam a seus modos de vida, a ponto de, diante da possibilidade de sair da pobreza, encarem essa situação como ameaça a seus modos de vida, muitas vezes dando preferência a eles do que à prosperidade". Falei assim, meio "rebuscado" tentando evitar, sem sucesso, a reação que se seguiu. As pessoas me encararam como se eu fosse um alienígena.
Como lá, os "intelectuais" aqui aferem aos pobres pessoas simplesmente não afortunadas, que precisam apenas de um "empurrãozinho" para prosperarem. Eu considero, já há um certo tempo, que pobreza no Brasil deve ser encarada como modo de vida, e se quisermos enfrentar a pobreza, não basta ajudar os pobres, mas também devemos confrontá-los. Temos que entender que não a pobreza da população não é desejável, uma vez que com ela vem toda sorte de percalços que lhe são característica.
Não é, e nem será, fácil. Veja o exemplo de Adriano. Adriano, prefere a favela. Como ele, uma legião de gente muito maior do que se imagina!
Vamos cair na real?!

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Maria Antonieta Guaycurus

Cemitério Catumbi, Rio de Janeiro, 08/04/2009. Assisto os funcionários do Cemitério selarem com um cimento arroxeado a gaveta mortuária. A cena me faz lembrar do sonho que tive essa noite. Muito a ver com o terremoto na Itália, mas também com ela e outros tantos que se foram. Sonho que estou em casa, e acontece um terremoto. Paredes e esquadrias de madeira começam a ruir na minha frente. A casa é antiga mas sua entrada é ampla, como os prédios antigos de Paris. Fujo desesperado. Não me lembro de ninguém mais dentro de casa. Estou só, ou com pessoas que nada tem a ver comigo. Ganho a rua e o sonho termina. "A casa está caindo", penso, enquanto os pedreiros vão cimentando a "gaveta". Ao lado, uma gaveta selada com esmero. Há frisas em alto relevo, trabalho executado com maestria. Olho para a tampa da gaveta de Antonieta. Vê-se que a tampa foi tirada dali, numa mini-demolição da urna. Seu acabamento não parece corresponder ao do vizinho. Parece pintada com cal em cima de cimento parcamente "socado", sequer chapiscado. "A casa está caindo" e eu estou "dando o fora". É mais um dos que marcaram minha vida que se vai. Nelson S. Kohl, Airton Barbosa, Luiz B. Clauzet, Raimundo T. Mendes, Zé Ferreira. Meu pai, minha irmã, parentes queridos, amigos queridos. "A casa está caindo" e eu quero "dar o fora". Medo me morrer? Ou me juntar a eles, abandonando esse mundo que está caindo?
Parentes e amigos de Antonieta me olham. Parece que me reconhecem vagamente. Cumprimento Joãozinho. Não reconhece (Ah!, marido da Sonia. Foi assim que me identifiquei. Resposta burocrática. Saberiam quem é Sonia?). Cumprimento de Lourdes. Mesma resposta. Maria de Lourdes é gêmea de Maria Antonieta. Não sei por quê critério seus pais nomearam uma com nome santo e outra com nome de devassa. Pelo menos é assim que a homônima, rainha da França, passou para a História. Mais tarde, viu-se que não era bem assim. Acho que os pais de Antonieta procuraram homenagear uma personalidade monarquista. Uma, a "santa", casou-se teve filhos, foi morar no Rio Grande do Sul. A outra, a "rainha", idem. Mudou-se para o Rio, Nova Iguaçú. Só que esta última, captando a maldição do nome, trouxe alegria a tanta gente, mudou a cara do Rio, mudou o Brasil. Hoje, se dançamos no salão, devemos a ela. Antonieta resgatou, desde a década de 70 a arte de dançar na gafieira, resquício popular do glamour dos salões dos cassinos, para os "brancos de olhos claros" da zona sul do Rio. Sua pequena cruzada abriu a cabeça dos garotões e garotaças do Rio, São Paulo e, finalmente, de todo o Brasil. Como disse uma mulher no enterro, "a pequenina dos grandes passos da dança de salão". Ambas as irmãs, gêmeas, mas não tão idênticas, se afastaram e se aproximaram. Já brigaram por minha causa (Antonieta não gostou de algo que de Lourdes me disse. Achou grosseria), mas sempre foram irmãs gêmeas. Algo que as tornou mais próximas que com qualquer pessoa no mundo.
Contarei depois a passagem das mais importantes de minha vida, acontecida na casa de Antonieta.