segunda-feira, 4 de março de 2013

Miss Bixete, outros babados e babaquice do trote no Brasil

Eu digo sempre que nossa maior característica é a macaquear os americanos e depois renegá-los. Um exemplo é a instituição do trote nas universidades brasileiras. Isso não existe na Europa. Se existe, o trote não passa de um conjunto de tarefas, espécie de gincana, que não varia de ano a ano. Levantar dinheiro para alguma instituição de ajuda ao terceiro mundo, sem a estupidez de pintura, cortes de cabelo e outras humilhações, é uma das coisas que, eventualmente, acontece por lá.
A origem do trote vem dos Estados Unidos. E, sob todo e qualquer aspecto, é muito, muito diferente em caráter e execução.
Para começar, ninguém é submetido a qualquer tipo de constrangimento quando chega ao campus. Há uma apresentação de responsáveis, que, na maioria das vezes, são veteranos, que se encarregam de dividir acomodações e outros tipos de providências para a instalação do calouro.
Uma característica adicional se apresenta. Existem as "irmandades". Cada universidade tem, por tradição, um conjunto delas com nomes, brasões e sedes extra-campus e, via de regra, se eternizam em sua vida, se acaso você chegar a fazer parte de uma delas.
É daí que vem o chamado trote brasileiro: para ingressar numa irmandade, privilégio nunca dado a calouro da universidade, você deve, depois de apresentar uma certa performance curricular e/ou econômica, se submeter a algumas tarefas mais ou menos esdrúxulas e/ou humilhantes. Quem viu "A Rede Social", que apresenta o processo de criação do Facebook, sabe da "tarefa" do brasileiro Ricardo Savarin para entrar em uma dessas irmandades da Universidade de Harvard: cuidar de uma galinha. Há outros filmes que mostram que para entrar em certas irmandades você teria de lutar um corpo a corpo com outros pretendentes em uma "caldeirão de m...".
Cada "calouro" tem um "padrinho" veterano. Na menção daquele desistir, esse se apresenta para incentivar a continuar, pois as "vantagens" que virão compensam em muito o quê se está passando. E não estão mentindo. Dentro daquilo em que acreditam, para eles, as vantagens são compensadoras.
E mais, as irmandades nunca são mistas. Há as masculinas e as femininas. Portanto, por mais esdrúxula que seja a tafera, ela nunca envolve humilhação de caráter sexual. E se, por acaso, você não se candidatar para o ingresso de nenhuma irmandade, você nunca será obrigado a se submeter a uma dessas provas. A pena é não ter o direito de gozar de certos privilégios que as irmandades garantem a seus membros: desde os mais mundanos, como participar de festas regadas a "grouppies muito a fim" dos membros daquela irmandade, até o direito de participar de confrarias e obter seus privilégios econômicos e sociais para o resto da vida. Diz a lenda que a CIA foi criada pelos membros de uma dessas irmandades de Princeton.
E no Brasil? O que acontece? Como sempre, tendemos a copiar a forma, esquecendo o conteúdo. Não existem irmandades, não existem privilégios, não existe conceito de grupo. Um bando de babacas recalcados se acham no direito de humilhar, agredir e constranger. Calouros suficientemente deslumbrados com a nova condição que se descortina aceitam tudo isso na base do "está por conta". Alguns deles irão se manifestar na mesma babaquice nos anos seguintes. E assim "la nave va..."

Um comentário:

aoribieor disse...

Muito bom, esta lendo e ouvindo você falar no café !