domingo, 12 de dezembro de 2010

O Filme do Lulismo

O fenômeno do lulismo parece um filme que, no momento, encontra-se no clímax da primeira parte. É, na verdade, a repetição de um drama já ocorrido dezenas de vezes na História. De início, parece um grande musical, a indicar um final com uma grande festa, com música alegre, dança e tudo que se tem direito, à la Bollywood, o conjunto dos famosos produtores de filmes indianos, em uma estética bem peculiar. No entanto, a partir do início da segunda parte, uma sucessão de equívocos se mostra e lembra mais uma comédia de erros, para, ao final,terminar em tragédia, com a morte de, praticamente, todos os protagonistas.
O roteiro pode ser resumido mais ou menos assim. Começa com uma geração no auge da juventude voluntariosa, rebelde e racionalista. Esses jovens, via de regra, recebem uma educação religiosa rígida. São universalistas e não se conformam com as injustiças do mundo. Geralmente associam essas injustiças com a doutrina que herdaram. Na procura de uma "nova realidade", de um lado, não percebem que, além da doutrina, herdaram a arrogância da geração que a precede, e, arrogantemente, acreditam que podem mudar o estado das coisas. Mais grave ainda, acreditam que podem conduzir o mundo a um estado de "justiça" que, sem se aperceberem, se assemelha, e muito, com os preceitos estabelecidos lá trás, na formação do cristianismo. Então, querendo mudar o mundo, esses jovens não percebem que eles mesmos não mudam em nada, apenas o embrulho do pet-rock. A eterna vida redimida no paraíso, ganha o apelido de "comunismo". O apocalipse passa a se chamar revolução. O Messias, agora, é a Classe Operária. Mudam-se os nomes, mantém-se a ideologia. E eles querem acreditar que isso é novo!
Eis que aparece um sujeito, inicialmente sem grandes pretensões, de formação escolar sofrível, mas muito inteligente, com grande capacidade discursiva e carisma incomparável. Mais importante que tudo, emanado da famosa "Classe Operária".
Faço uma pausa nesse roteiro para notar que estou especificando demais a estória ao caso brasileiro. No entanto, pode-se transportá-la facilmente a qualquer outro caso semelhante: jovem cadete, cabo do exército, seminarista expulso, enfim, pessoas de formação moral "comum", pessoas do "senso comum", oriundos da zona rural ou imigrantes, de família fervorosamente católica, e talvez com algum traço de inadequação. Não quero deixar aqui a impressão de uma opinião desabonadora a respeito do caráter dessas pessoas. Apenas chamo a atenção para algumas características semelhantes. Longe de dizer que um "operário" forçosamente levará ao mesmo roteiro. Pode ser o contrário.
Voltando ao script. Geralmente é criado um partido político para servir de base aos projetos de poder do movimento, enquanto que o "maioral", geralmente, está acima ou ao lado dele. A adesão de praticamente todos os jovens dessa geração ao que parece ser o "salvador", ou "messias" é imediata e, salvo alguns casos de resistência passageira, unânime. A adesão ao partido se dá de forma massiva e a sensação nesses jovens é de grande autossuficiência. Creem, esses jovens, terem encontrado a fórmula de ascender ao poder e lá, promover a tão desejada "correção do mundo".
Num primeiro momento, a reação popular é de total aprovação. Aparecem defensores intransigentes e a grande maioria se manifesta, de forma aparente ou não, favorável às ações daquele para parece ser, finalmente, o "messias" que tanto aguardavam.
Por outro lado, algumas características são comuns em todos os roteiros desse tipo de história e que denunciam a verdadeira natureza do embuste aos "mais atentos", ou os "resistentes": formação de grupos, de natureza "clandestina", que, praticamente, faz com que todos que deles fazem parte cantarem, mais ou menos, trechos de uma mesma cartilha. O resultado, aos olhos dos incautos, parece ser a manifestação de modos de natureza fashion. Termos e expressões que estão "na moda". A quem está atento, a aparência é de uma inequívoca conspiração. Mas qualquer manifestação nesse sentido é estigmatizada dentro da chamada "teoria da dita cuja, a conspiração".
Outra característica frequente do curso desse tipo de novela é o aparecimento de hostes truculentas nas bases do movimento. Se, de um lado, a truculência é sempre descartada pelo alto comando, e, na maioria das vezes, ocorre sem sua aprovação, por outro lado, ela serve de aglutinação. Grupos armados ou truculentos trazem a sensação de que se está "preparado" para a eclosão de uma eventual reação ao "movimento revolucionário". Oficialmente o alto comando desaprova a violência. Intimamente, sente-se "protegido".
Concentrações, passeatas e manifestações de cunho popular são frequentemente organizadas para "não se perder o élan do movimento". Uma eventual reação de conteúdo romântico pode catalizar um movimento nacional e insano de violência e perseguição. Aí está um ponto que ainda não se chegou no Brasil. Mas eu tenho certeza que os ideólogos do movimento, agora no poder, bem que sonham com uma manifestação dessas. Não descarto nem a eventualidade de uma "provocaçãozinha" para "empurrar" alguns "desgarrados". Nunca se deve desprezar essa possibilidade.
Encerrada a primeira parte, o "salvador" no poder, todos estão felizes. A sensação generalizada é que, finalmente, encontramos o caminho certo, que daqui para diante é só amor e felicidade. Não se pode culpar as pessoas desse sentimento. Afinal, é como na piada do "irlandês" caindo de um espigão, passando pelo 13o. andar: "so far, so good". Uma imagem bem apropriada, também, é de uma grande onda no mar. Enquanto subimos, a sensação é de poder infinito e infindável. Dá-se "caldos" em quem se preocupa com o abismo se formando à frente.
Nesse ponto, começam a aparecer algumas coisas que "não colam". Leis que atropelam o sentido do direito romano, esse taxado de anacrônico ou inadequado; medidas sociais de grande repercussão popular às custas de uma política de gestão mais responsável. Ocupação das instâncias de poder por "aliados" ou burocratas do partido. Um certo regozijo de classes tradicionalmente associadas ao atraso e à corrupção com o sistema implantado. O "salvador" começa a pronunciar discursos revelando uma certa crença na própria infabilidade. Em pouco tempo, ou na primeira oportunidade começa a fazer o país engolir certas medidas que vão contra o bom senso. Num primeiro momento, seus seguidores acatam as ordens por, eles mesmos, acreditarem na infabilidade do líder. Num segundo momento, porque são incapazes de afrontarem quem eles consideram acima do bem e do mal.
Aos poucos a insanidade se instala. O sistema começa a dar mostras de fadiga. É a descendência da onda. Para "explicar" os fracassos, geralmente botam-se a culpa, inicialmente, nos opositores do sistema, em seguida nos críticos, para, pouco a pouco, começarem a cortar da própria carne, a começar pelos menos protegidos. Sempre se tem, afinal, o expediente de botar a culpa em algum elemento externo, hoje em dia, os Estados Unidos, já que, para isso, não é preciso convencer ninguém, uma vez que, no inconsciente coletivo, os Estados Unidos são virtualmente culpados por tudo de ruim que se passa no mundo.
Chega-se a um ponto de rompimento. A saga de "Juvenal, o bom boi", da fábula "Fazenda Modelo", que Chico Buarque tão bem chupou de "Animal Farm", de George Orwell termina num grande caos. Na saga, o poder é passado a um porco. No "remake" de nosso filme, o poder é ocupado por uma espécie de síndico da massa falida, em um país devastado, com as pessoas sem eira nem beira. Via de regra, mais tarde esse síndico passará a ser amaldiçoado, mas isso já é outro filme.
Em poucas palavras, o argumento acima pode ser resumido na seguinte story line: um medíocre toma o poder, transforma-se em um canalha, e, sob o respaldo de um mar de gente idealista, vira ídolo, para levar a nação à ruína, mas quando as pessoas percebem, é tarde demais.
Ah! Gente como eu morre no meio. Não fica ninguém para dar sua versão da história.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Vaselina no sangue

Nessa história de injetarem vaselina por engano numa menina de 12 anos, em um hospital em São Paulo, eu implicaria a direção e os responsáveis da farmácia. Afinal, em pleno século XIX, acondicionam soro fisiológico e vaselina no mesmo tipo de frasco, com as mesmas conexões e rótulos semelhantes! É convite para esse tipo de acidente!