quinta-feira, 21 de junho de 2018

Veríssimo e suas Parábolas

Hoje, Veríssimo em sua coluna contou uma parábola para fazer metáfora com os pensamentos econômicos. Literariamente, Veríssimo é genial. Escreve com fluência e bom humor. Sabe colocar as idéias como ninguém. O problema são as idéias, especialmente quando se trata de política. Brizolista de origem, com a morte deste, ficou órfão e migrou para o lulismo. Não que sejam muito diferentes. Nem que não tenham discordado no início do primeiro mandato de Lula, mas, se estivesse vivo, Brizola teria mais que festejado sua política no final do segundo mandato e entrado em júbilo, no mandato-e-meio de Dilma, que por sinal, também era brizolista. Os 11 milhões de desempregados que Dilma legou ao deixar o poder está completamente foracluído pelos lulistas e (ex-)brizolistas.
Veríssimo narra um conto em que uma família é colocada numa floresta dominada por um tigre (não o asiático, como ele mesmo diria). O tigre dá a você, chefe da família (pode ser homem ou mulher, tá? Não venha querer me taxar de ‘misógeno’) a opção de conviverem desde que, de vez em quando, lhe seja fornecido um filho para matar a fome. Veríssimo diz que essa é uma condição neoliberal da floresta. Então, Veríssimo dá ao chefe(a) três opções: 1- a neoliberal, que você aceita as condições sem contestar; 2- Contesta ‘o poder’ do tigre, pede para verificar seus documentos e se manda dando-lhe uma banana; 3- a que ele acha sonhadora, (será ele?) em que você tenta negociar de igual para igual enquanto procura outro lugar na floresta com um tigre, talvez, mais ‘aceitável’.
Acho engraçado que esse pessoal de ‘esquerda’ gera argumentos do adversário para contestá-los com facilidade. Lula é especialista nisso. Procura um argumento fácil de contestar, e, verdade ou não, a atribui ao inimigo para massacrar com obviedades. Isso me lembra uma frase de Mark Twain a respeito de debater com estúpidos, mas deixa prá lá. O que quero é rebater o argumento de Veríssimo, o argumento real, dado por ele próprio, para não cair na mesma tática lulista.
Cito um caso real para fazer a metáfora. Um desses documentários do Animal Planet mostra uma coelha prenha dando à luz sua ninhada numa pequena toca que achou ser segura. Mas, então, ela se dá conta que a toca está cercada por uma raposa. As condições da raposa são: você entrega seus filhotes e, se for rápida o suficiente, foge para tentar a vida em outra ‘selva’. A mãe-coelho, diante das alternativas, não escolhe, nem essa, nem nenhuma das que Veríssimo ofereceu. A mãe-coelho mata os filhotes e os come.
Por que? 1- Com isso ela se livra do ponto fraco da situação que é proteger seus filhos; 2- Não dá chance para a raposa de se fortificar alimentando-se de sua ‘carne’; 3- Fortifica-se ela, a mãe, para enfrentar o período de sítio à toca; 4- Sinaliza para a raposa que ela perdeu muito de sua chance de alimentar-se ali. É melhor ela, a raposa, procurar outras paragens com chances maiores e assim a mãe-coelho pode procurar outras tocas mais seguras para emprenhar e dar à luz.
Então, não se trata de escolher entre neoliberalismo “malvado”, ou malandro abusado a dar bananas para o tigre, nem sonhador romântico.
Trata-se de enfrentar friamente a realidade nua e crua e agir de acordo com a situação. Procurar minimizar os estragos. Para isso é preciso reconhecer a realidade. Dar bananas para tigre está longe de parecer uma solução. Será que Veríssimo acha que a mãe-coelho deveria sair da toca e dar bananas para a raposa? O risco seria a mãe-coelho ser comida e quanto a sua ninhada, seria uma questão de tempo. A raposa poderia fazer a digestão calmamente enquanto esperaria pelo próximo filhote a sair para lhe dar bananas. 
Sempre que você se encontra em situação de sacrifício, deve pensar no que deve ser feito e quanto vai custar hoje e amanhã. A selva não tem lugar para abusado, Veríssimo.