terça-feira, 13 de abril de 2010

O pedófilo de Luziana

A Vara de Execuções Penais do Tribunal de Justiça de Brasília disse que "não havia como antever" que um pedófilo, que já havia estuprado dois garotos de 11 e 12 anos, pudesse estuprar e matar 6 adolescentes. Um técnico de nível médio em estatística poderia lhes dizer, senhores juízes!!! Pudera, com o "psicólogo" dando o prognóstico de que o dito "mostrava polidez, coerência de pensamento e crítica sobre os crimes que havia cometido". Francamente, com todas as críticas que podemos fazer à psicologia do FBI americano, ela é infinitamente melhor do que essa psicologia praticada nos fóruns do Brasil.
Eu acho que esses juízes e esse/a psicólogo/a são cúmplices.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Brecht e o Brasil de hoje

A história que contei hoje, ilustra, de forma apavorante, o que vem se intensificando no Brasil já há um certo tempo. É bem verdade que não começou com o governo Lula, mas nele, intensificou-se. Já dizia, alguns meses depois da posse de Lula, em 2002, que, estranhamente, o estado das coisas me lembravam os tempos dos militares. Hoje, sou capaz de ver que, além da falta de governo (naquele tempo os militares mais sabiam bater do que comandar), há, naquele tempo, e hoje, uma desconexão entre as instâncias superiores e aquelas que se ocupam do serviço propriamente dito. Pouco a pouco, a demagogia e, o que é pior, a hipocrisia se instalam. Cinistmo e dissimulação: não foi o que me aterrorizou no filme "A Fita Branca"? (ver texto anterior meu).
Então, mais do que nunca, a sequência de Brecht se aplica ao Brasil desses nossos tempos:
"No início foi alguém da outra rua. E eu me calei. Depois foi um vizinho. E eu me calei. Depois foi um parente meu. E eu me calei. Depois fui eu mesmo. E não havia ninguém para se manifestar".

PF (Primeiro de Abril na Federal)

Parece conto de primeiro de abril. Não é. Acontece que consegui agendar a solicitação de passaporte para ... primeiro de abril! Na Delegacia da PF no Shopping Rio-Sul, zona sul do Rio de Janeiro. Parece coisa de primeiro mundo, mas se revelou um primeiro de abril funesto.
Meu horário, 14:30H. Perfeito até aqui. Fui ao Ráscal, almocei e paguei (tenho o ticket do pagamento via cartão registrado às 13:37H), ainda deu tempo de passar no banheiro (previa, por experiência, que seria muito difícil ser chamado no horário marcado, ficaria feliz se o fosse às 15:30H, mais provável, lá pelas 16H). Cheguei ao local um pouco antes das 14H. Tinha até lugar para sentar!
Espero. Nota-se que o lugar está cheio de cartazes com instruções ao usuário. Não é necessário pedir senha, "você será chamado".  Coisas da tecnologia, pensei eu. E diante da sensação de eficiência, aguardei com paciência. É verdade que eu não esperava que me chamassem no horário. Tal destreza é muito, afinal.
Inicialmente pensei que fosse a moça no balcão da frente quem chamaria. Estava enganado. Era apenas para aqueles que vinham apanhar o passaporte pronto. Uma porta a direita se abriu. Uma mulher chama um nome. Um monte de gente se agrupa. Fazem perguntas, ela responde com uma leve impaciência. "Você chegou atrasado. Não atendeu o nome, espere uma nova chamada". Lembrei-me da situação extrema que me encontrei, na França, quando me equilibrava no meio de "arabes" para ver se ouvia meu nome ser chamado, em frente a um balcão semelhante àquele da mocinha da PF do Rio-Sul. Coisa da cultura. A "mocinha francesa", naquela ocasião, gritava para todos se sentarem. Inútil. Os "arabes" se amontoavam em frente do balcão como crianças a espera de doces. O jeito era se misturar a eles, do contrário você perdia a chamada, pois não existia sistema de som. Era pela goela que se chamava (burocracia: palavra de origem francesa, para significar uma coisa que, afinal, foi inventada lá, na França, onde eles se mantém no máximo da perfeição no assunto).
São 14:30H. Como era de se esperar, tudo está atrasado. Pessoas continuam se acumular quando a tal mulher aparece. As respostas são impessoais e a leve impaciência se mostrando. Até aqui, penso que as pessoas ainda precisam se acostumar com o sistema, que se apresenta mais eficiente que no passado. Não sabia o quanto estava enganado.
Pelo que pude constatar, há mais de um para cada horário. Não sei quantos. Mais de dois, sei com certeza.
15:30H. Uma mulher que me pareceu agendada para 14:45H, pois ela perguntou anteriormente, e recebeu resposta, foi chamada. Vem a sensação desagradável que fui "esquecido". Quando ela sai, passa por mim, e eu pergunto. Tenho razão. O horário das 14:30 já tinha sido "superado". Espero pacientemente pelo reaparecimento da tal mulher e vou perguntar. Resposta: "Já foi chamado. O senhor não ouviu". Como?
Há coisas com o quê eu lido mal. Uma delas é a mentira. Sobretudo de gente investida de alguma autoridade. A transparência é um conceito arraigado em mim. Não sei desde quando, talvez tenha sido impregnado em mim pelos meus pais, sem que o soubessem. Lembro-me com clareza da indignação que senti diante da manchete em uma banca de jornal, no dia infame de dezembro de 68, a notícia da promulgação do AI-5. Eu nem sabia bem o que era, mas a lista das coisas que estavam proibidas, da cassação da cidadania de um tanto de gente me deixou furioso, revoltado e impotente.
Intuí, imediatamente, que algo de muito errado estava acontecendo ali. Ora, sou uma pessoa de mais de 50 anos de idade. Tenho uma vivência razoável. Já me meti em confronto com tropa de exército, durante a ditadura. Já discuti com policial francês da CRS, a temida tropa de choque de dispersão de multidões, em Paris. Já me expliquei para agente da polícia de fronteira em Heathrow, com suas perguntas absurdas. Acredita aquela mulher, provavelmente terceirizada, na delegacia da PF no Rio-Sul, que pode me intimidar?
Do bate-boca que se seguiu, uma certeza se mostrou: a prática de "pular" gente, sob pretextos absurdos tinha como objetivo não comprometer uma meta de produtividade. Diante de uma provável auditoria, na incapacidade de atender a todos no horário estabelecido, inventa-se que as pessoas "chegam atrasadas", "não ouvem o chamado por estarem distraídas ou porque o 'barulho' de fora é muito alto". Tudo invenção ridícula.
O que mais me faz espécie é constatar que o brasileiro não reage. Diante de situações de evidente arbitrariedade, o brasileiro, resignado, aceita passivamente o que lhe é imposto sem reclamar. Prefere jogar o jogo do poder e culpar a vítima. Aí vem a causa maior dos desmandos do país. Não se reage diante da corrupção (passeata na rua não adianta), não se reage diante de assalto, de violência, de transgressão dos direitos humanos, da má qualidade das mercadorias etc.
Sento-me, inconformado. Tem gente que me garante que eu serei atendido, as pessoas me olham com perplexidade e, alguns, com certo ódio. Viro-me para todos: "Eu me chamo João Luiz. Alguém aqui presente desde às 2:30H, por acaso, ouviu meu nome ser chamado?" Alguém, lá trás responde. Estou aqui desde às 2:15H. Meu filho está para ser chamado e chama-se João. Então estou atento ao nome e posso garantir que a palavra João não foi pronunciada. Então respondi em bom som que eu já tinha, pelo menos, uma testemunha. A mulher, na minha frente me diz que seu filho chama-se Mateus, está desde 45min antes de seu horário e quando foi verificar, a resposta, simplesmente, foi: você chegou atrasado. Desmascarada, a mulher, em alto tom, no interior da sala, fez-se ouvir que as pessoas não ouvem por causa do barulho externo. Em tom equivalente, comentei que se podíamos ouvir de lá, onde ela estava, imagine quando ela abria a porta e procedia em tom mais alto a chamada.
Justamente quando a dita mãe de Mateus lhe dizia para não reclamar, pois "poderiam nao atender", aparece uma mulher na mesma porta, de aspecto mais simpático, e chama: "João". João de quê, pergunto eu. Tem mais de um João, continuo. Pacientemente a mulher procura na lista e diz: João Luiz. As pessoas, perplexas.
Lá dentro, peço desculpas. A mulher defende a outra. Diz que eu fui chamado. Isso me dá a certeza que tem alguma coisa errada, naquela delegacia. Retruco que as pessoas podem se enganar. Manda voltar dia 12 para pegar o passaporte. Saio. As pessoas, em silêncio, me encaram. Os olhares são de perplexidade, ódio e horror. Nenhum, de admiração, nenhum, de simpatia.
-Sofram! Como diria uma oficial bombeiro, conhecida minha. A ocasião não era a mesma, mas dá vontade de aplicar nesse caso. Povinho b....

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Alô, alô choque de ordem!

Essa foto aí foi tirada ontem no Largo do Humaitá, bem no canteiro do
meio. Pedestre, ali, se não quisesse ser atropelado, teria que esperar
o sinal fechar para andar na rua!