quinta-feira, 27 de junho de 2013

Carta a Cora Rónai a respeito dos médicos estrangeiros

Cora,
Sou seu leitor. Não tão assíduo porque assiduidade não é meu forte. Mas, sempre que leio, gosto. Já lhe disse isso. Talvez você se lembre, o que duvido, frente ao mar de gente que lhe escreve coisas muito mais interessantes.
Mas não posso deixar de lhe escrever. Como despeito, coloco esse texto em meu blog e divulgo no fb. É minha forma de berrar, já que não me resta outra coisa.
Concordo com você no assunto que escreveu hoje. Mas o que acontece de fato, sob meu ponto de vista, é ainda mais grotesco, para não dizer criminoso. Seria cômico, se não fosse trágico.
As pessoas, nas redes, tratam de assuntos conectados de maneira independente, como para que, esquizofrenicamente, não se aperceberem que a coisa é escabrosa, inacreditável. Que descortina o (des)governo que temos.
Toda essa coisa vem de um ministro, ou burocrata do governo cubano, que tem interesse - sabe-se lá por que - em "exportar" seus médicos. Esse senhor convenceu nosso chanceler a "importar" 6.000. Isso mesmo: 6.000 médicos cubanos foram contratados pelo Ministério das Relações Exteriores do Brasil, sem que mais ninguém do governo tenha sido consultado. Foi um ato intempestivo, uma compra por impulso.
Fico imaginando como as coisas ficaram no Palácio do Planalto. Gritos para cá, corridas para lá, no final ficou a coisa encalhada: o que fazemos? Pergunta-se ao comprador o que o levou a ter essa idéia de jerico e ele responde: "Mas eu pensei: o Brasil não um problema sério de falta de médicos no interior? Por que não trazermos esse médicos cubanos que são tão bons? Não tem esse movimento dos prefeitos? Vamos resolver o problema deles." Aí, eu me pergunto. O movimento dos prefeitos gerou essa contratação ou essa contratação que levou ao movimento dos prefeitos? Essa pergunta é melhor que a do ovo e a galinha, que por sinal, já responderam.
Como lá em Brasília as coisas são como o clube do Bolinha, ou Bolinha-Luluzinha, o que passaram a fazer foi achar um meio de mostrar que tudo fora planejado. Lá, ninguém fica sem guarda-chuva. É o que chamam fidelidade partidária (eu pensei em Máfia, mas, até nela, quem faz bobagem "desaparece").
Aí vem nossa "presidenta" e faz um pronunciamento para acalmar a horda enfurecida e anuncia a contratação de médicos estrangeiros.
Ao mesmo tempo, corre por fora a questão do Ato Médico. Está sendo discutido no Congresso a anos. À primeira vista, trata-se de um ato de regulamentação da profissão. No entanto, contém alguns absurdos que sufocam atividades de saúde não médicas e submetem aos médicos atividades de profissionais experientes. Com isso, um médico recém saído de uma residência tem condição legal de contestar o tratamento de um psicanalista experiente. E, com base legal, acusá-lo de charlatanismo, se este não se sujeitar ao que foi prescrito. Uma sujeição por força de lei que lembra os tempos do absolutismo, em que certa classe de gente não teria, jamais, prerrogativas afeitas apenas a uma elite.
Há anos, profissionais sérios da área de saúde não médica lutam para extrair, ou aperfeiçoar esses aspectos do projeto de lei, para que tenhamos uma regulamentação justa, que garanta os direitos e determine deveres dos médicos, sem atropelar atividades idependentes. Encontram resistência nos próprios médicos que, nesse caso, agem de forma corporativa, e na indústria farmaceutica que tem interesse em transformar todos os nossos problemas em uma questão química.
Mas, por força desse "imbroglio" dos médicos cubanos, o governo faz aprovar o Ato Médico no Senado com o objetivo exclusivo de tentar abrandar a "fúria" dos médicos. Como se essa reação fosse apenas dos médicos, não fosse de parte de toda a sociedade. Tudo isso ao arrepio dos direitos de gente muito séria trabalhando na área de saúde, muitas vezes "poupando" pacientes da voracidade da indústria farmaceutica em lhes meter goela abaixo suas drogas de efeito muito duvidoso.
De forma cínica, aproveitam-se da falta de informação. É populista e oportunista trazer a idéia que a saúde vai mal porque faltam médicos, ou esses não querem trabalhar no interior. Isso é desinformação.
Recentemente fui levado a depender do SUS para um tratamento quimioterápico por pílula. Esse tratamento é genialmente fantástico para a saúde do paciente, porque agride pouco e tem eficácia muito superior à quimioterapia tradicional. Mas ele é ruim para bolso. Acho que 99% da população brasileira não teria condições de financiar um tratamento desses. Por isso o SUS representou um papel fundamental para mim. Pude testemunhar, por força da circunstância, a luta surda que é travada no interior das agências dispensadoras do estado e município para evitar o roubo e a corrupção. Gente que arrisca suas vidas para impedir que essas medicações sejam desviadas para o mercado negro. Isso no Rio de Janeiro, capital. Imagina no interior. Isso tem limite. Já, já, voltaremos ao estado de completa dominação das quadrilhas. Gente vai morrer, mas isso não passará de mais um registro policial.
Eu pergunto: isso é falta de médico? Sei de cirurgiões que operam pacientes aidéticos sem proteção necessária. Isso no Rio de Janeiro, capital. É culpa de médicos? Médicos são assassinados por gente revoltada. Isso na nossa zona rural do Rio de Janeiro. Eles merecem?
Resumo, eles lá no Planalto, não dão a mínima para o que acontece na saúde do Brasil. Essa saúde que temos é a que foi organizada por Adib Jatene. Os atuais governantes querem apenas não parecer idiotas, um bando de moleques sem rumo, e dar uma cara de "gente séria". Mais séria que o PSDB, única preocupação que parece lhes afligir.
De seu fã,
J.L.