domingo, 12 de dezembro de 2010

O Filme do Lulismo

O fenômeno do lulismo parece um filme que, no momento, encontra-se no clímax da primeira parte. É, na verdade, a repetição de um drama já ocorrido dezenas de vezes na História. De início, parece um grande musical, a indicar um final com uma grande festa, com música alegre, dança e tudo que se tem direito, à la Bollywood, o conjunto dos famosos produtores de filmes indianos, em uma estética bem peculiar. No entanto, a partir do início da segunda parte, uma sucessão de equívocos se mostra e lembra mais uma comédia de erros, para, ao final,terminar em tragédia, com a morte de, praticamente, todos os protagonistas.
O roteiro pode ser resumido mais ou menos assim. Começa com uma geração no auge da juventude voluntariosa, rebelde e racionalista. Esses jovens, via de regra, recebem uma educação religiosa rígida. São universalistas e não se conformam com as injustiças do mundo. Geralmente associam essas injustiças com a doutrina que herdaram. Na procura de uma "nova realidade", de um lado, não percebem que, além da doutrina, herdaram a arrogância da geração que a precede, e, arrogantemente, acreditam que podem mudar o estado das coisas. Mais grave ainda, acreditam que podem conduzir o mundo a um estado de "justiça" que, sem se aperceberem, se assemelha, e muito, com os preceitos estabelecidos lá trás, na formação do cristianismo. Então, querendo mudar o mundo, esses jovens não percebem que eles mesmos não mudam em nada, apenas o embrulho do pet-rock. A eterna vida redimida no paraíso, ganha o apelido de "comunismo". O apocalipse passa a se chamar revolução. O Messias, agora, é a Classe Operária. Mudam-se os nomes, mantém-se a ideologia. E eles querem acreditar que isso é novo!
Eis que aparece um sujeito, inicialmente sem grandes pretensões, de formação escolar sofrível, mas muito inteligente, com grande capacidade discursiva e carisma incomparável. Mais importante que tudo, emanado da famosa "Classe Operária".
Faço uma pausa nesse roteiro para notar que estou especificando demais a estória ao caso brasileiro. No entanto, pode-se transportá-la facilmente a qualquer outro caso semelhante: jovem cadete, cabo do exército, seminarista expulso, enfim, pessoas de formação moral "comum", pessoas do "senso comum", oriundos da zona rural ou imigrantes, de família fervorosamente católica, e talvez com algum traço de inadequação. Não quero deixar aqui a impressão de uma opinião desabonadora a respeito do caráter dessas pessoas. Apenas chamo a atenção para algumas características semelhantes. Longe de dizer que um "operário" forçosamente levará ao mesmo roteiro. Pode ser o contrário.
Voltando ao script. Geralmente é criado um partido político para servir de base aos projetos de poder do movimento, enquanto que o "maioral", geralmente, está acima ou ao lado dele. A adesão de praticamente todos os jovens dessa geração ao que parece ser o "salvador", ou "messias" é imediata e, salvo alguns casos de resistência passageira, unânime. A adesão ao partido se dá de forma massiva e a sensação nesses jovens é de grande autossuficiência. Creem, esses jovens, terem encontrado a fórmula de ascender ao poder e lá, promover a tão desejada "correção do mundo".
Num primeiro momento, a reação popular é de total aprovação. Aparecem defensores intransigentes e a grande maioria se manifesta, de forma aparente ou não, favorável às ações daquele para parece ser, finalmente, o "messias" que tanto aguardavam.
Por outro lado, algumas características são comuns em todos os roteiros desse tipo de história e que denunciam a verdadeira natureza do embuste aos "mais atentos", ou os "resistentes": formação de grupos, de natureza "clandestina", que, praticamente, faz com que todos que deles fazem parte cantarem, mais ou menos, trechos de uma mesma cartilha. O resultado, aos olhos dos incautos, parece ser a manifestação de modos de natureza fashion. Termos e expressões que estão "na moda". A quem está atento, a aparência é de uma inequívoca conspiração. Mas qualquer manifestação nesse sentido é estigmatizada dentro da chamada "teoria da dita cuja, a conspiração".
Outra característica frequente do curso desse tipo de novela é o aparecimento de hostes truculentas nas bases do movimento. Se, de um lado, a truculência é sempre descartada pelo alto comando, e, na maioria das vezes, ocorre sem sua aprovação, por outro lado, ela serve de aglutinação. Grupos armados ou truculentos trazem a sensação de que se está "preparado" para a eclosão de uma eventual reação ao "movimento revolucionário". Oficialmente o alto comando desaprova a violência. Intimamente, sente-se "protegido".
Concentrações, passeatas e manifestações de cunho popular são frequentemente organizadas para "não se perder o élan do movimento". Uma eventual reação de conteúdo romântico pode catalizar um movimento nacional e insano de violência e perseguição. Aí está um ponto que ainda não se chegou no Brasil. Mas eu tenho certeza que os ideólogos do movimento, agora no poder, bem que sonham com uma manifestação dessas. Não descarto nem a eventualidade de uma "provocaçãozinha" para "empurrar" alguns "desgarrados". Nunca se deve desprezar essa possibilidade.
Encerrada a primeira parte, o "salvador" no poder, todos estão felizes. A sensação generalizada é que, finalmente, encontramos o caminho certo, que daqui para diante é só amor e felicidade. Não se pode culpar as pessoas desse sentimento. Afinal, é como na piada do "irlandês" caindo de um espigão, passando pelo 13o. andar: "so far, so good". Uma imagem bem apropriada, também, é de uma grande onda no mar. Enquanto subimos, a sensação é de poder infinito e infindável. Dá-se "caldos" em quem se preocupa com o abismo se formando à frente.
Nesse ponto, começam a aparecer algumas coisas que "não colam". Leis que atropelam o sentido do direito romano, esse taxado de anacrônico ou inadequado; medidas sociais de grande repercussão popular às custas de uma política de gestão mais responsável. Ocupação das instâncias de poder por "aliados" ou burocratas do partido. Um certo regozijo de classes tradicionalmente associadas ao atraso e à corrupção com o sistema implantado. O "salvador" começa a pronunciar discursos revelando uma certa crença na própria infabilidade. Em pouco tempo, ou na primeira oportunidade começa a fazer o país engolir certas medidas que vão contra o bom senso. Num primeiro momento, seus seguidores acatam as ordens por, eles mesmos, acreditarem na infabilidade do líder. Num segundo momento, porque são incapazes de afrontarem quem eles consideram acima do bem e do mal.
Aos poucos a insanidade se instala. O sistema começa a dar mostras de fadiga. É a descendência da onda. Para "explicar" os fracassos, geralmente botam-se a culpa, inicialmente, nos opositores do sistema, em seguida nos críticos, para, pouco a pouco, começarem a cortar da própria carne, a começar pelos menos protegidos. Sempre se tem, afinal, o expediente de botar a culpa em algum elemento externo, hoje em dia, os Estados Unidos, já que, para isso, não é preciso convencer ninguém, uma vez que, no inconsciente coletivo, os Estados Unidos são virtualmente culpados por tudo de ruim que se passa no mundo.
Chega-se a um ponto de rompimento. A saga de "Juvenal, o bom boi", da fábula "Fazenda Modelo", que Chico Buarque tão bem chupou de "Animal Farm", de George Orwell termina num grande caos. Na saga, o poder é passado a um porco. No "remake" de nosso filme, o poder é ocupado por uma espécie de síndico da massa falida, em um país devastado, com as pessoas sem eira nem beira. Via de regra, mais tarde esse síndico passará a ser amaldiçoado, mas isso já é outro filme.
Em poucas palavras, o argumento acima pode ser resumido na seguinte story line: um medíocre toma o poder, transforma-se em um canalha, e, sob o respaldo de um mar de gente idealista, vira ídolo, para levar a nação à ruína, mas quando as pessoas percebem, é tarde demais.
Ah! Gente como eu morre no meio. Não fica ninguém para dar sua versão da história.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Vaselina no sangue

Nessa história de injetarem vaselina por engano numa menina de 12 anos, em um hospital em São Paulo, eu implicaria a direção e os responsáveis da farmácia. Afinal, em pleno século XIX, acondicionam soro fisiológico e vaselina no mesmo tipo de frasco, com as mesmas conexões e rótulos semelhantes! É convite para esse tipo de acidente!

sábado, 27 de novembro de 2010

Carta Aberta a Arnaldo Bloch

Prezado Arnaldo,
Sua crônica de hoje é um tiraço na opinião do "acaba com tudo isso de uma vez e ficaremos felizes, livre dessa violência-bandidagem". Concordo com 99,9% de tudo o que você diz. Até a três parágrafos do final. É onde você expõe os motivos de sua crítica. O mercado ilegal das drogas. Não é que eu seja contra a liberação. Para ser sincero, não tenho opinião formada a respeito. Acho que o assunto é complexo demais para ser discutido em alguns parágrafos ou frases prontas.
Mas você me decepciona. Você vai fundo na questão da segurança, levanta opiniões de especialistas, conecta conceitos e informações para concluir, brilhantemente, que estamos muito, muito longe de uma solução.
Mas aí, termina por decretar a "solução definitiva"! Então é isso? Tudo se resolve com liberação das drogas? O que me faz espécie é que ao mesmo tempo em que você critica uma forma de pensar em resolver o problema, a utiliza logo em seguida para defender a "sua solução". Nossas mazelas são decorrentes do fato de, sendo de venda proibida, a violência aparece daí, da proibição das drogas. A liberação vai acarretar em uma diminuição da violência, já que se poderá comprar um "tapinha" na esquina, ou uma "carreirinha" na farmácia mais próxima, ou nas melhores casas do ramo. Não haverá espaço para exploração por bandidos e marginais. É isso, Arnaldo? Acho que eu estou perdendo alguma coisa. Me desculpe. Você vem e diz: "Reguladas, estas (as drogas) serão consumidas sob controle, como ocorre com o álcool e o tabaco".  Sob controle?! Você acha que o álcool e o tabaco são produzidos sob controle? Isso mostra, Arnaldo, que você não tem parente ou pessoa próxima, de quem você depende, entregue ao vício do alcoolismo. Se você tivesse um pai, ou mãe alcoólatra, saberia o que é "controle do álcool". Se você tem, então é um tremendo mané. Não é possível que você não tenha um amigo, ou especialmente, amiga, que não consegue se livrar do vício do tabaco, se destruindo dia a dia. Controle, né?
 Eu fico me perguntando se gente como você, defensor incondicional da liberação das drogas, imagina o que acontecerá com os atuais narco-traficantes. Acha que é "num passe de mágica"? Faltando o meio, acaba-se com a prática. É? Fico aqui pensando se Marcinho VP, Elias Maluco, Fernandinho Beira-Mar, e seus seguidores, frustrados com a "falta do mercado", vão passar a trabalhar como pedreiros, carpinteiros, padeiros... Tudo, é claro, após se formarem profissionais nas muitas escolas que surgirão, políticas sociais financiadas pelo dinheiro arrecadado dos impostos sobre as drogas. Gênio! Você sabe para onde vai o dinheiro arrecadado da venda dos cigarros? E das bebidas? Se sabe, me diga, Arnaldo. Eu duvido que vá para o tratamento das vítimas do vício. Que seja utilizado para financiar campanhas anti-tabaco ou álcool. Ou você chama essas propagandas tímidas anti-tabaco uma "campanha"? Quanto custa ao governo obrigar um anúncio de whisky a terminar com "beba com moderação"?
E é claro, drogas como crack e outros derivados tão ou mais nocivos, não terão mais espaço pois o consumidor vai ter a disposição produtos da melhor "qualidade" a venda no mercado oficial. É isso, Arnaldo? Consumidor de drogas prefere "o melhor"?
Finalmente, acho que você devia dar uma olhada não no mercado ilegal de drogas, mas sim, no de droga legalizada! Uma pesquisa no Colégio Santo Agostinho, Rio, constata que 30%, (veja bem, 30%) dos candidatos ao ingresso nessa escola são consumidores habituais de remédios de tarja preta. Ouvi que, na população brasileira em geral, essa porcentagem chega a 12% ou 17%, não sei ao certo, mas o que assusta é a cifra de dois dígitos. A psiquiatria atual, em sua nova terminologia/estratégia é um agente ativo na implantação das drogas na população.
Taí uma pequena amostra do que representa um mercado legal, Arnaldo. Dia a dia as coisas se degradam e não há sequer uma vírgula dedicada a respeito na grande imprensa. Mercado de drogas representa uma relação amo (o fabricante/vendedor) - escravo (o consumidor e viciado). Estamos no limiar de um novo tempo, "the dawning of the age of Acquarius", como preconiza a canção, agora novamente em voga, pela reapresentação de Hair. Uma era de retorno à escravidão. E não venha com o papo que, "se não der a gente volta a trás". Parece aquele que está prestes a detonar a bomba atômica: "se for muito forte, a gente interrompe a reação".
Vocês insistem em discutir de forma superficial a questão. Tenho medo de idiotas como você. Vocês detonam a bomba, e acham que estão fazendo o bem.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Lula e o ENEM

Lula disse que o ENEM deu certo, apesar das críticas de quem sempre foi contra. Disse isso a respeito dessa lambança do INEP. Então é isso. O iletrado Lula, o simplório e "homem do povo", como se "povo" fosse sinônimo de ignorância e repugnância ao saber, termina por se revelar um canalha. Por que não estou surpreso?

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Cidadania à Brasileira

Hoje, 4 de outubro de 2010, um dia após as eleições, nas rádios, fala-se apenas delas. Análises, previsões, críticas, entrevistas, enfim, tudo é eleição. Não podia ser diferente dada a importância, cada vez mais consciente na cabeça dos brasileiros, que ela tem na nossa vida cotidiana. É verdade que o processo eleitoral brasileiro, apesar de toda a informatização, contém o que em estatística se chama "viés significativo", especialmente na escolha dos candidatos a cargo legislativo, em regime proporcional, mas isso são outros quinhentos.
O que quero falar é de uma cena revoltante que assisti vindo para o trabalho, no viaduto sobre a Av. Paulo de Frontin, Rio de Janeiro. Um pega entre dois ônibus da empresa Real, de números de registor 41069 e 41073. Era evidente que um queria ultrapassar o outro, e para isso executavam manobras que já seriam consideradas perigosas para um veículo de passeio: cortes, costuras, ultrapassagem pela direita etc.
Atrás dos veículos, novinhos em folha, um cartaz simpático pergunta: Como estou dirigindo? Ligue para 0800-886-1000. Assumo que falar pelo celular é um delito menos perigoso que o quê estava assistindo, tento ligar. Voz gravada avisa: "ligações desse aparelho não estão autorizadas".
Entro em meu escritório e pego o aparelho de telefone fixo. A voz gravada sugere que "em caso de reclamação ou sugestões, pressione 3". Uma atendente simpática pede meu nome (mas não diz o seu), avisa que o protocolo é oitenta e tanto e pergunta no que ela pode ajudar. Digo que quero denunciar um "pega" entre dois ônibus da empresa Real no viaduto sobre a Av. Paulo de Frontin. Ela responde que, para isso, eu devo fornecer dados para um cadastro completo, já que era a primeira vez que entrava em contato com a "Central de Atendimento ao Consumidor das Empresas de Ônibus Municipais do Rio de Janeiro", ou coisa parecida. Trata-se pois, nada mais, nada menos, que o sindicato patronal dos ônibus do Rio de Janeiro (aquele que apoiou com "tudo" que podia apoiar, nosso atual e re-eleito governador Sergio Cabral). Cadastro completo, significa dar RG, CPF, endereço residencial, de trabalho, enfim, toda a informação necessária para todo tido de pressão e constrangimento. Pergunto à paciente atendente, qual é a relevância do CPF e RG de alguém que assiste e denuncia um delito grave de trânsito de duas unidades de uma empresa que eles representavam. Ela responde que isso é imposição do decreto seis mil e não sei quanto. Pergunto a ela: "decreto de quem". Sem saber responder ela diz isso é norma do SAC. Pergunto a ela, que garantia ela me dá que os meus dados não vão parar na mão de quem deveria ser punido com a denúncia. Ela me responde que só uma pessoa teria acesso a essa informação. Pergunto, então, se ela poderia me fornecer os dados completos dessa pessoa, para eu poder me defender, se acaso submetido a constrangimento.
Fim do papo: se Sr. quer se manter anônimo, lique para o "Disque Denúncia". Ligar para o "Disque Denúncia" que vão receber meu depoimento em meio a denúncias de de tráfico, assassinatos e outros desmando que acontecem a três por dois no Rio.
Essa é a "cidadania à brasileira".

domingo, 12 de setembro de 2010

A Quem trairás?

Corria o ano de 1982. Eleições para Governador no Brasil inteiro. Dois Estados atraíam particular interesse pelos seus candidatos. No Rio, tínhamos Leonel Brizola, retornando à vida pública depois de 18 anos no exílio. Em São Paulo, Lula se candidatava pela primeira vez a um cargo eletivo. Discursos novos, novos alentos, o detalhe foi que o debate de candidatos foi permitido e, importante, livre.
No Rio, tirando Brizola, os outros candidatos se mostraram mornos e com pouca coisa para apresentar. Raposa velha, Brizola pareceu dominar a campanha, e bastou mais um desses debates para consolidar sua vitória. O carioca, levado por um sentimento que o castigou por muito tempo, e ainda sofre consequências, elegeu Brizola porque concordou com ele que, eleger-se no Rio de Janeiro e não no Rio Grande do Sul, seria o caminho mais curto para chegar à presidência.
Em São Paulo havia mais expectativas. Além de Lula, disputavam Franco Montoro, tido como oposicionista histórico e, ao final, vencedor, Jânio Quadros, a velha raposa populista, este de direita, e Reinaldo de Barros, representando a mais velha política que se podia imaginar, pois herdava o legado de Adhemar de Barros, seu tio.
Conto tudo isso por causa de uma pergunta interessante de Jânio Quadros. No seu falar típico (Jânio, assim como Brizola, foram os últimos políticos que conheci que faziam do sotaque e maneirismo de linguagem, marca registrada) deu uma descrição sumária das alianças que Montoro tinha montado, mostrando que havia direita e esquerda que o apoiava. Depois dessa breve descrição, pergunta de forma peremptória: "Se eleito, a quem o senhor vai trair?"
Ano de 2002, eleição presidencial. Lula é candidato. Está difícil manter José Serra, candidato da situação. Serra não é o sujeito que decola. Seu jeito "paulistão tranquilo" não entuasiasma quem não é paulista. Se naquele tempo nos perguntávamos, hoje parece claro que Serra não será, nem agora, nem nunca, o presidente.
Cegos pelo desejo de fazer vencer o queríamos ver, não percebíamos que Lula tinha amealhado uma aliança que ia além das tendências do PT. Queríamos que Lula vencesse pelo que acreditávamos que Lula estava identiicado. Foi um processo de cegueira (ou histeria) coletiva.
Bem que precisavamos de um "Jânio Quadros" a perguntar a Lula "Quem o Sr. vai trair?" Mas, cada um, na sua ingenuidade, acreditava que Lula iria trair "os outros". Aqueles que achavam que fariam revolução à la Chile de Allende tinham certo que Lula iria pelo mesmo caminho (agora sem os vícios de Allende), aqueles que queriam a implantação da ética acreditavam que Lula seria o baluarte da ética, os que acreditavam na "política paroquial", os sindicalistas, os social-democratas decepcionados com Fernando Henrique, enfim, a miríade da sopa de letrinhas dos partidos de esquerda, PCB, PCdoB, MR-9, VAR, ALN, etc, cada um fantasiava seu delírio de poder com Lula. Pois bem, afinal, a quem Lula não traiu? Basta ver os que estão festejando sua gestão: antigos stalinistas, sindicalistas pelegos, coroneis corruptos (seria um pleonásmo?) do Nordeste, nordestinos mumificados na eterna queixa que sua desgraça vem do "sul", corruptos e lobistas em Brasília, os agentes mais bem sucessidos do mercado financeiro e os milionários mais descarados, como aquele que quer a todo o custo tomar posse de uma ex-estatal que não lhe pertence (certamente, teria aprendido com o pai, que em dado momento do militarismo, deve ter acreditado que aquela empresa, na época, pública lhe pertencia).
Assim, ao contrário de Jânio, que em 1961 traiu todo mundo, Lula preferia ser seletivo. Ao menos, essas pessoas acima citadas não podem se queixar de falta de lealdade de seu representante no poder.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Parasitismo na natureza e na sociedade

É bem sabido que o processo que governa a seleção natural é o mesmo que governa a sociedade. Tudo o que se dá na natureza pode ser transferido, se corretamente concebido, para a sociedade. Assim, "crossover", mutação, mutualismo e parasitismo são processos que podem ser identificados na sociedade se entendidos dentro de certos contextos. Na política, por exemplo, podemos identificar todos esses elementos. Alianças são facilmente entendidas como "crossover", produzindo "offsprings" que se espalham no ambiente político mais ou menos, de acordo com seu poder de adaptação. Mutações também têm seu paralelo. Mudanças de opinião, traições e reestruturação de coligações são entendidas dentro desse conceito.
 Da mesma forma, também se manifestam processos bem conhecidos e que ocorrem à larga na natureza: o mutualismo (que as alianças podem ser enquadradas também nesse conceito) e o parasitismo.
O parasitismo é um processo complexo e bastante sofisticado, tanto na natureza, quanto no poder. Pode-se dizer que os predadores são determinadas formas de parasitas, mas eu acho que o parasitismo puro é algo um pouco mais sofisticado. São entes que atuam de forma específica e são bem mais sutis que os chamados predadores. Matematicamente, dizemos que as parasitas atuam na função de adaptação da espécie alvo, gerando um processo complexo de refinamento no fenotipo de ambas as espécies, a das parasitas e a da espécie alvo. Dizem que a reprodução sexuada surgiu como eficaz meio de enganar parasitas. Com isso, deve-se reconhecer o papel positivo do parasitismo uma vez que a reprodução sexual representou um grande impulso na evolução natural.
Uma característica notável do parasitismo é que o hospedeiro, o indivíduo atacado, não se dá conta do que lhe ocorre. Assim, ele carrega a parasita consigo para sua colônia e facilita a sua disseminação entre outros membros de sua comunidade.
O poder é um ótimo nicho para o parasitismo evoluir. Não importa a forma como se galga o poder, é para ele que acorre todo candidato a cumprir o papel de parasita: oportunistas, carreiristas, arrivistas, se caracterizam por ter pouco ou nenhum compromisso com o conjunto da sociedade, buscando tão somente a forma mais eficaz e fácil de se encastelar e usufruir do poder, sem que cumpra qualquer obrigação ou contrapartida por ali estar.
E como nos processos vitais, criam nicho para melhor se perpetuar, e assim criam, no poder, as condições para não mais deixá-lo.
Enquanto elegemos aqueles que pensamos que vão nos governar, na verdade, elegemos tão somente aqueles que serão os "hospedeiros", quem será manipulado por aqueles que se especializam em se instalar e perpetuar no poder.
O sistema de poder é complexo e exige saber, conhecimento e experiência para controlá-lo. Com eleições periódicas, é comum vermos um revezamento de poder que parece acelerar e alimentar o parasitismo. Sistemas ditadoriais ou monárquicos são ambientes em que o parasitismo se instala mais lentamente, mas é, igualmente, incontornável. Nesses sistemas de poder, o parasitismo, quando se instala, se torna ainda mais estável.
Quanto mais permissivo é o sistema legal, mais vulnerável ao parasitismo é o sistema de poder. Quanto mais "ideológico" é o grupo que assume os postos de poder político, mais vulnerável ao parasitismo. Baseados em discursos, esses "ideológicos" não se dão conta que assumir discursos é a tarefa mais fácil dos carreiristas. Esses, não têm qualquer escrúpulo em discursar o que for preciso para angariar a simpatia dos altos postos e assim, mais facilmente, tirar proveito e manipular as pessoas nesses postos.
Como é característica do parasitismo, os hospedeiros não percebem que estão infectados. Para eles, estamos no melhor dos mundos.
É impossível determinar quando o parasitismo se instalou no Brasil. É possível que venha de períodos coloniais. Mas é possível percebê-lo no período militar. Enquanto estes acreditavam estar "limpando" o Brasil do perigo comunista, os agentes do parasitismo fizeram a festa.
Hoje, no período Lula, esse processo se faz sentir de forma cada vez mais intensa. Para mim, é o que faz muita coisa estranhamente parecer com o período militar.
Podemos dizer que esse parasitismo seria bom, a longo prazo, para o sistema de poder. Eu, pessoalmente, acredito que esse parasitismo mais se parece com o chamado mutualismo ou simbiose, visto na natureza. Quando instalado, esse parasitismo político passa e se reproduzir no interior do poder. É o que faz a diferença entre o parasitismo e a simbiose. Enquanto se serve do próprio sistema de poder, o processo torna-se simbiótico. Fortalece-se enquanto consolida o sistema de poder.
É. Acho que não temos chance.

domingo, 27 de junho de 2010

Gaspari quer que dinheiro dos planos vão para o SUS

Elio Gaspari sustenta que o SUS seja ressarcido pelo atendimento a clientes da rede privada, quando esses são atendidos na rede pública. É má intenção ou falta massa encefálica a Gaspari? Será que ele se esquece que aqueles que são atendidos no SUS, clientes de redes privadas, também recolhem para a securidade social? Tenho plano de saúde privado porque a REDE PÚBLICA é insuficiente para atender minhas necessidades. Ainda que eu recolha um valor DUAS VEZES o SALÁRIO que pago a minha empregada doméstica e seja SEIS VEZES o valor que pago ao meu plano de saúde privado, vem o Sr. Gaspari, do alto de seu pedestal, inventar que os planos privados "se aproveitam" do SUS! Vá lamber sabão prá ver se sai espuma do ouvido, Sr. Gaspari - o populista!

sábado, 19 de junho de 2010

Temporão e o Twitter da Lei Seca

O Ministro Temporão disse que o Twitter da Lei Seca não adianta nada. Que as "#BOLS" estariam derrotando as estatísticas nefastas de trânsito. Isso indica bem o que pensam nossos governantes. Eles não sacam que o TLS não está aí para derrotar o que quer que seja. Não se trata de uma iniciativa nefasta e para fazer apologia do crime. o Twitter está aí para ajudar aqueles que bebem e se mantém (ou até se tornam mais) responsáveis. Aqueles que tomam seus "golinhos" e retornam calma e tranquilamente para seus lares sem ameaçar ninguém. Para esses, nossas autoridades não estão nem aí. Twitter neles, garotada!

Saramago vai prô céu

Todos nós estamos aqui em clima de homenagem ao bom velhinho idealista que foi Saramago. Jornais falam de sua intransigência com a injustiça, com os "males" do capitalismo. Falamos também de sua lealdade ao Partido Comunista Português, que só se compara com a fidelidade de Oscar Niemeyer ao comunismo. Reverencia-se, com toda justiça, seus atributos literários, do rigor, da justa premiação com o Nobel e Camões, ambas esnobadas por ele, como convém. Há de se notar, também, sua conveniente intolerância com as religiões, "o maior mal da humanidade", segundo ele, em completa sintonia com o pensamento "moderno", um misto do evolucionismo "radical" de Richard Dawkins, com o "revolucionarismo" ortodoxo de Fidel Castro. Conveniente. Olhando bem a situação, acho que não existe ninguém mais policamente correto do que José Saramago. Nem Oscar Niemeyer. E ele morre uma morte politicamente correta também, em uma cidade espanhola, depois que o governo português deu, de bandeja, mais um motivo para um protesto conveniente. Até a Igreja Católica solta um comunicado homenageando Saramago.
Não há autor de língua portuguesa mais conveniente para ser contemplado com o Nobel do que José Saramago. É erudito, formal e sobretudo, português. Em seu "Navegação de Cabotagem", Jorge Amado interpreta a sua própria não indicação ao fato dele ser "de orientação comunista". Devido a um mal entendido envolvendo ele, Jorge Amado, um influente jurado sueco (ou será norueguês?) do prestigioso prêmio nórdico e um colega espanhol em um juri de um prêmio literário. Parece que Jorge Amado foi, injustamente, marcado como "favorecedor" de esquerdistas e assim, em retaliação, dançou nas indicações ao Nobel. É bem verdade que ele mesmo também esnobava o prêmio. Também Drumond teria sido protelado, segundo se diz, porque sua poesia encontrou a barreira da língua. Parece que as subversões literárias de Drumond não têm tradução nas línguas que os nórdicos entendem. Afinal, essa língua neolatina de uma comunidade internacional de peso relativamente pequeno, não teria muito espaço na literatura internacional. Neolatino, por neolatino, é preferível o francês, o mais teutônico (ou nórdico) dos idiomas latinos.
Saramago é uma autor erudito. Suas construções são rigorosas e difíceis. Esse é mais um atributo conveniente para sua premiação. Saramago é um chato. Erudito por erudito, rigoroso por rigoroso, prefiro João Cabral de Mello Neto. Poeta, erudito e rigoroso: e não é chato. Renegou seu "Morte e vida Severina", por ter sido encomendado, com orientação popular. Uma obra prima. Mas Joao Cabral não foi conveniente o suficiente para uma indicação. Por que?
Conferir prêmio Nobel é um ato essencialmente político. Uma forma do parlamento norueguês (ou será sueco?) exprimir suas opiniões e tentar fazer pender o pêndulo para onde lhe interessa. Assim dá-se o prêmio a um  Soljenitsin porque ele denuncia os desmandos da ditadura soviética. Precisa-se condenar a ditadura argentina? Dá-se o prêmio a Adolfo Esquivel. Dar um prêmio a um brasileiro? Qual seria a mensagem política a ser dada? Um desprestígio a Portugal, país europeu e amigo, afinal. Recorde-se das alianças entre portugueses e vickings...
Não que os laureados não mereçam. Todos fizeram coisas que os levaram ao prêmio. Menos, talvez, Barack Obama, que foi contemplado numa espécie de crédito de merecimento. Ele  não fez nada ainda. Mas o fará. Mas, dentre os candidatos, escolhe-se o que mais convém à política dos noruegueses (ou serão suecos?). É como o processo de escolha da Miss Universo, uma espécie de Nobel da beleza feminina.
Saramago, um ateu visceral, crítico da Igreja Católica, homenageado por ela própria? Por que será? Se abrirmos a lente, para uma panorâmica, podemos entender por que. Saramago, na resenha d'O Globo, teria dito que cedo ou tarde veremos que o capitalismo é uma falsa promessa, que o socialismo é a resposta para a humanidade. Ah é? Falsa promessa de quem, cara pálida? Para Saramago, capitalismo e socialismo é uma questão de opção. Se inventaram o socialismo, certamente alguém inventou o capitalismo. Se pararmos para pensar no que diz Saramago, veremos que seu discurso se assemelha ao de Jesus Cristo. Aliás, Saramago tirou Jesus de seu pedestal divino e o realocou por entre os mortais. E assim, o coloca como seu parceiro filosófico. A Igreja (que não é boba, já que existe há 2000 anos), entendeu isso. Saramago estava mais próximo da Igreja do que pensava. Para ela, ele faz parte de seus hostes. Saramago vai prô céu.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Cora Rónai e a lei do silêncio

Cora Rónai coloca muito bem a questão da lei do silêncio. As pessoas têm o direito de descansar, sobretudo se estão acomodadas em seus "cantos", isto é, residências. Ela ainda acrescenta a queixa de uma moradora que é importunada até altas horas pelo barulho de um boteco, que por sinal, nem alvará de funcionamento tem. O secretário municipal de qualquer coisa correlata, garante, na frente de uma grande platéia, quando questionado, que isso não passará em brancas nuvens, que tomará medidas imediatas para resolver essa questão. Doce ilusão a nossa, Cora. O tal secretário é um político, e como tal, está usando o cargo com o único propósito de subir na carreira. O tal boteco, se funciona sem alvará, é porque o dono está molhando a mão de alguém. Já que funciona sem alvará, não custa ignorar outras "leizinhas", tais como a do silêncio. É assim que o Brasil funciona. Um pequeno delito, já abre portas para outros delitos, afinal, dá-se um jeitinho, e fica tudo bem. Os que se queixam são taxados de "chatos", atrasados, ignorantes, e, por que não, "classe média".
O tal secretário nem vai tentar mexer nisso. Provavelmente iria meter a mão em saco de gato, pois a fiscalização da prefeitura deve ser uma toca de raposa mafiosa. Se o tal secretário tentasse, provavelmente seria ameaçado de morte. Sabendo disso, e nada podendo dizer em público, só lhe resta tentar sair bem na fotografia e cuidar da própria carreira.
Se não gosta assim, Cora, vai morar na Itália.

terça-feira, 13 de abril de 2010

O pedófilo de Luziana

A Vara de Execuções Penais do Tribunal de Justiça de Brasília disse que "não havia como antever" que um pedófilo, que já havia estuprado dois garotos de 11 e 12 anos, pudesse estuprar e matar 6 adolescentes. Um técnico de nível médio em estatística poderia lhes dizer, senhores juízes!!! Pudera, com o "psicólogo" dando o prognóstico de que o dito "mostrava polidez, coerência de pensamento e crítica sobre os crimes que havia cometido". Francamente, com todas as críticas que podemos fazer à psicologia do FBI americano, ela é infinitamente melhor do que essa psicologia praticada nos fóruns do Brasil.
Eu acho que esses juízes e esse/a psicólogo/a são cúmplices.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Brecht e o Brasil de hoje

A história que contei hoje, ilustra, de forma apavorante, o que vem se intensificando no Brasil já há um certo tempo. É bem verdade que não começou com o governo Lula, mas nele, intensificou-se. Já dizia, alguns meses depois da posse de Lula, em 2002, que, estranhamente, o estado das coisas me lembravam os tempos dos militares. Hoje, sou capaz de ver que, além da falta de governo (naquele tempo os militares mais sabiam bater do que comandar), há, naquele tempo, e hoje, uma desconexão entre as instâncias superiores e aquelas que se ocupam do serviço propriamente dito. Pouco a pouco, a demagogia e, o que é pior, a hipocrisia se instalam. Cinistmo e dissimulação: não foi o que me aterrorizou no filme "A Fita Branca"? (ver texto anterior meu).
Então, mais do que nunca, a sequência de Brecht se aplica ao Brasil desses nossos tempos:
"No início foi alguém da outra rua. E eu me calei. Depois foi um vizinho. E eu me calei. Depois foi um parente meu. E eu me calei. Depois fui eu mesmo. E não havia ninguém para se manifestar".

PF (Primeiro de Abril na Federal)

Parece conto de primeiro de abril. Não é. Acontece que consegui agendar a solicitação de passaporte para ... primeiro de abril! Na Delegacia da PF no Shopping Rio-Sul, zona sul do Rio de Janeiro. Parece coisa de primeiro mundo, mas se revelou um primeiro de abril funesto.
Meu horário, 14:30H. Perfeito até aqui. Fui ao Ráscal, almocei e paguei (tenho o ticket do pagamento via cartão registrado às 13:37H), ainda deu tempo de passar no banheiro (previa, por experiência, que seria muito difícil ser chamado no horário marcado, ficaria feliz se o fosse às 15:30H, mais provável, lá pelas 16H). Cheguei ao local um pouco antes das 14H. Tinha até lugar para sentar!
Espero. Nota-se que o lugar está cheio de cartazes com instruções ao usuário. Não é necessário pedir senha, "você será chamado".  Coisas da tecnologia, pensei eu. E diante da sensação de eficiência, aguardei com paciência. É verdade que eu não esperava que me chamassem no horário. Tal destreza é muito, afinal.
Inicialmente pensei que fosse a moça no balcão da frente quem chamaria. Estava enganado. Era apenas para aqueles que vinham apanhar o passaporte pronto. Uma porta a direita se abriu. Uma mulher chama um nome. Um monte de gente se agrupa. Fazem perguntas, ela responde com uma leve impaciência. "Você chegou atrasado. Não atendeu o nome, espere uma nova chamada". Lembrei-me da situação extrema que me encontrei, na França, quando me equilibrava no meio de "arabes" para ver se ouvia meu nome ser chamado, em frente a um balcão semelhante àquele da mocinha da PF do Rio-Sul. Coisa da cultura. A "mocinha francesa", naquela ocasião, gritava para todos se sentarem. Inútil. Os "arabes" se amontoavam em frente do balcão como crianças a espera de doces. O jeito era se misturar a eles, do contrário você perdia a chamada, pois não existia sistema de som. Era pela goela que se chamava (burocracia: palavra de origem francesa, para significar uma coisa que, afinal, foi inventada lá, na França, onde eles se mantém no máximo da perfeição no assunto).
São 14:30H. Como era de se esperar, tudo está atrasado. Pessoas continuam se acumular quando a tal mulher aparece. As respostas são impessoais e a leve impaciência se mostrando. Até aqui, penso que as pessoas ainda precisam se acostumar com o sistema, que se apresenta mais eficiente que no passado. Não sabia o quanto estava enganado.
Pelo que pude constatar, há mais de um para cada horário. Não sei quantos. Mais de dois, sei com certeza.
15:30H. Uma mulher que me pareceu agendada para 14:45H, pois ela perguntou anteriormente, e recebeu resposta, foi chamada. Vem a sensação desagradável que fui "esquecido". Quando ela sai, passa por mim, e eu pergunto. Tenho razão. O horário das 14:30 já tinha sido "superado". Espero pacientemente pelo reaparecimento da tal mulher e vou perguntar. Resposta: "Já foi chamado. O senhor não ouviu". Como?
Há coisas com o quê eu lido mal. Uma delas é a mentira. Sobretudo de gente investida de alguma autoridade. A transparência é um conceito arraigado em mim. Não sei desde quando, talvez tenha sido impregnado em mim pelos meus pais, sem que o soubessem. Lembro-me com clareza da indignação que senti diante da manchete em uma banca de jornal, no dia infame de dezembro de 68, a notícia da promulgação do AI-5. Eu nem sabia bem o que era, mas a lista das coisas que estavam proibidas, da cassação da cidadania de um tanto de gente me deixou furioso, revoltado e impotente.
Intuí, imediatamente, que algo de muito errado estava acontecendo ali. Ora, sou uma pessoa de mais de 50 anos de idade. Tenho uma vivência razoável. Já me meti em confronto com tropa de exército, durante a ditadura. Já discuti com policial francês da CRS, a temida tropa de choque de dispersão de multidões, em Paris. Já me expliquei para agente da polícia de fronteira em Heathrow, com suas perguntas absurdas. Acredita aquela mulher, provavelmente terceirizada, na delegacia da PF no Rio-Sul, que pode me intimidar?
Do bate-boca que se seguiu, uma certeza se mostrou: a prática de "pular" gente, sob pretextos absurdos tinha como objetivo não comprometer uma meta de produtividade. Diante de uma provável auditoria, na incapacidade de atender a todos no horário estabelecido, inventa-se que as pessoas "chegam atrasadas", "não ouvem o chamado por estarem distraídas ou porque o 'barulho' de fora é muito alto". Tudo invenção ridícula.
O que mais me faz espécie é constatar que o brasileiro não reage. Diante de situações de evidente arbitrariedade, o brasileiro, resignado, aceita passivamente o que lhe é imposto sem reclamar. Prefere jogar o jogo do poder e culpar a vítima. Aí vem a causa maior dos desmandos do país. Não se reage diante da corrupção (passeata na rua não adianta), não se reage diante de assalto, de violência, de transgressão dos direitos humanos, da má qualidade das mercadorias etc.
Sento-me, inconformado. Tem gente que me garante que eu serei atendido, as pessoas me olham com perplexidade e, alguns, com certo ódio. Viro-me para todos: "Eu me chamo João Luiz. Alguém aqui presente desde às 2:30H, por acaso, ouviu meu nome ser chamado?" Alguém, lá trás responde. Estou aqui desde às 2:15H. Meu filho está para ser chamado e chama-se João. Então estou atento ao nome e posso garantir que a palavra João não foi pronunciada. Então respondi em bom som que eu já tinha, pelo menos, uma testemunha. A mulher, na minha frente me diz que seu filho chama-se Mateus, está desde 45min antes de seu horário e quando foi verificar, a resposta, simplesmente, foi: você chegou atrasado. Desmascarada, a mulher, em alto tom, no interior da sala, fez-se ouvir que as pessoas não ouvem por causa do barulho externo. Em tom equivalente, comentei que se podíamos ouvir de lá, onde ela estava, imagine quando ela abria a porta e procedia em tom mais alto a chamada.
Justamente quando a dita mãe de Mateus lhe dizia para não reclamar, pois "poderiam nao atender", aparece uma mulher na mesma porta, de aspecto mais simpático, e chama: "João". João de quê, pergunto eu. Tem mais de um João, continuo. Pacientemente a mulher procura na lista e diz: João Luiz. As pessoas, perplexas.
Lá dentro, peço desculpas. A mulher defende a outra. Diz que eu fui chamado. Isso me dá a certeza que tem alguma coisa errada, naquela delegacia. Retruco que as pessoas podem se enganar. Manda voltar dia 12 para pegar o passaporte. Saio. As pessoas, em silêncio, me encaram. Os olhares são de perplexidade, ódio e horror. Nenhum, de admiração, nenhum, de simpatia.
-Sofram! Como diria uma oficial bombeiro, conhecida minha. A ocasião não era a mesma, mas dá vontade de aplicar nesse caso. Povinho b....

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Alô, alô choque de ordem!

Essa foto aí foi tirada ontem no Largo do Humaitá, bem no canteiro do
meio. Pedestre, ali, se não quisesse ser atropelado, teria que esperar
o sinal fechar para andar na rua!

segunda-feira, 22 de março de 2010

A Fita Branca

Ontem vi esse filme de Michael Haneke e confesso que ele me apavorou. Longe de entender o filme no ponto de vista de Bruno Leal, não vejo o filme como uma tentativa de "explicação psicológica" para a origem do nazismo na Alemanha. Acho que o Sr. Bruno entende o filme como um "tratado" que encerra a discussão respeito. Pelo contrário, acho que o filme abre a questão. Creio que Haneke passa uma panorâmica na geração que, mais tarde, será nazista. E ele não alivia. O cinismo e a dissimulação de crianças e adolescentes, capazes de praticar crimes abomináveis é o que permeia toda a trama. "Reparação de injustiças", mesmo que para isso se impinja dor, morte e sofrimento em inocentes. Esse é um dos pilares em que se sustenta o nazismo dos anos 30. É claro que não é só sobre isso que se sustenta as bases do nazismo. É claro que existem as raízes históricas, sociais, políticas, etc, etc. Mas o que nos mostra Haneke em seu filme, é um momento particular disso que chamamos hoje de conflito de gerações, dessa transformação que se processa em que membros de diferentes gerações travam esse diálogo de surdos, o rompimento por parte da nova geração com a estrutura antiga que ela não entende e não tolera. Os antigos profundamente tomados pelo turbilhão que aparece a sua frente e que eles não entendem e que os supera em afetos que eles não conseguem domar, e que se manifesta no tom de voz emocionado e contido do pastor protestante e puritano. Ao mesmo tempo que os antigos se fazem de cegos diante de atrocidades antigas (o pai, médico, molestar sua filha, por exemplo), os jovens incontidos diante do que eles consideram inaceitável, se põem a "fazer justiça com as próprias mãos". A rigidez da educação e todas suas manifestações violentas e inconsequentes ensina a esses jovens a praticar o cinismo e a dissimulação. Pois bem, sem essa geração que se forma nessas condições, o nazismo não seria possível. Com todos os pré-requisitos históricos, sociais, políticos, etc.
Não vamos esquecer que o pastor, diante da manifestação da completa ausência de compaixão de sua filha que trucida o pássaro de estimação do pai como "reparação" por ter sofrido o castigo de algo de que não tinha culpa, diante da constatação de que seus filhos estariam na origem dos horrendos crimes que aterroriza a todos, cala-se, e prefere colocar panos quentes. É demais. Diante do extremo da maldade, o pastor, tão rigoroso a ponto de açoitar os filhos por eles não terem se apresentado para jantar, agora cala-se e prefere ameaçar o professor que desvendou a charada. O pastor cala-se diante do abominável, seja por não querer ver o médico bolinando sua filha, seja por constatar que seus filhos eram capazes de tanta maldade e calar-se.
O assustador é que isso está aí. Não se manifesta pelo ressurgimento do nazismo, pois não há os tais pré-requisitos. Mas está aí na origem do mal. Até quando vamos nos calar, nos fazer de cegos?

quinta-feira, 11 de março de 2010

Lula não queria ver Hillary

Como indica a foto do jornal, Lula posa feliz com Condolezza Rice mas declara que não queria ver Hillary porque "ministro fala com ministro". Lula diz que não é "vira-lata" mas acaba posando de "chacal". Querendo dar uma de "poderoso", termina por tão somente comer na mão de canalhas. Não me surprende. Esse povo de esquerda que se diz "vanguarda", que se volta "em favor" dos "desfavorecidos" não passa de covardes que sempre aspiraram alçar entre os poderosos sem conhecer outro caminho senão o da vilaneza. Sempre foi assim. Mas, pior são os idiotas que os suportam.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Futuro da Internet no Brasil

Acompanhando as transações com a Telebrás, tem gente que se pergunta por que o governo quer "recuperar" a ex-gigante estatal da telefonia. Por outro lado, a gente sabe que tem vindo gente "especialista" em Internet de Cuba (país modelo no assunto, não?). Um deles já declarou, segundo Elio Gaspari, que a internet promove um extermínio maior que o atentado das torres gêmeas. Juntando lé-com-cré: Lula diz que a Telebrás será uma "grande" na banda larga. Será que teremos o "modelo cubano" da Internet?

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Em intenção a uma apresentadora da Globonews...

Ah! Ana Paula Couto
Quando te apresentas na TV, me deixas louco.
Meu coração, tão sofrido, bate solto.
Quero te ver, te ouvir, te tocar,
Mas acho pouco!

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Palavras de "Garcias"

Dois "Garcia"s deram o tom no jornal O Globo de hoje. O primeiro é o nosso Ministro das Relações Internacionais, Marco Aurélio Garcia, vulgo, "Ministro do 'top-top'" (aquele que usou o famoso gesto - honomatopeisado pelo Pasquim, dos anos 70 -, em homenagem aos mortos do acidente da TAM em Congonhas no ano passado). Verdadeiras pérolas sairam de sua boca, segundo O Globo. Para ele, o "esterco cultural" (sic) está contaminando o povo brasileiro nos canais de TV a cabo. Ele disse que já não se tem a efervecência cultural dos anos 30 e 50, e diante desse "massacre" cultural, deveríamos refletir mais sobre isso. O ministro desse ministério não-sei-o-quê, uma vez que seu nome a sua área de atuação deveria ser da alçada do Itamarati, manda mensagens cifradas. Só não entende quem não quer.
A nostalgia do ministro diz respeito a um tempo de ser feliz para as esquerdas. Adorava-se Stalin, que namorava Hitler, ignorava-se os milhões de mortos na Ucrânia (por não alinhamento com o pensamento "operário" oficial), "desconhecia"-se o chamado "Arquipélago Gulag", um eufemismo para trabalho escravo. Também foi um tempo de intentonas, que matou uns tantos (afinal, não foram tantos assim, como se número de mortos fôsse indicativo de qualidade), matava-se menina de 16 anos a título de afirmação ideológica. Tempos bons para o ministro.
É isso que o ministro quer dizer quando diz da "efervecência" cultural dos anos 30 e 50.
Se alguma coisa não se alinha com o que pensa o ministro, trata-se de "esterco cultural".  Também, quando o ministro diz que precisamos "refletir" a respeito, ele quer dizer, na verdade: "Precisamos encontrar um jeito de censurar isso".
Sangue bom, esse ministro!
Outro "Garcia", trata-se de um colunista, Luiz Garcia. Eu acho que as pessoas precisam escrever um texto para justificar os salários astronômicos que elas percebem e procuraram uma manchete. Casa a manchete com um texto cujo tema elas já mantém em um banco de dados. Sacam o texto, atualizam e pronto! Está coluna feita e o caraminguão garantido no fim do mes. Do contrário, só admitindo que as pessoas estão mau intencionadas. Esse Luiz Garcia fala do General que teceu alguns comentários sobre a presença de homossexuais nos quarteis. Eu li a entrevista e achei muito coerente. Se existem gays na caserna, o general não nega, nem repudia. Apenas diz que a sua manifestação explícita não seria bem aceita na tropa nos dias de hoje. Acho perfeito. Concordo plenamente. O que as pessoas tem que pensar é que as Forças Armadas tem um propósito específico. Não se trata de aceitação social, profissional ou psicológica. Trata-se de formar tropas de soldados, isto é, máquinas de matar, ou de salvar, ou de se pôr como escudo humano. A obediência ao comando deve ser inquestinável, quase cega. Eu acredito que, nos dias de hoje, há um risco da tropa não aceitar bem um gay, por exemplo, explicitando seus trejeitos no comando. Isso porque, um gay "enrustido" para usar uma palavra de antigamente, é, para o general, perfeitamente aceitável.
Pena que aqueles de deveriam estar aqui para esclarecer (não seria esse o propósito dos colunistas?) estejam aí mais para desinformar, subvertento a própria função, tão apenas para garantir o seu.
Definitivamente, esses Garcia's compromentem o nome. Gente ruim!!!

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Perguntinha

Em tempo: e Zelaya?