sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Parasitismo na natureza e na sociedade

É bem sabido que o processo que governa a seleção natural é o mesmo que governa a sociedade. Tudo o que se dá na natureza pode ser transferido, se corretamente concebido, para a sociedade. Assim, "crossover", mutação, mutualismo e parasitismo são processos que podem ser identificados na sociedade se entendidos dentro de certos contextos. Na política, por exemplo, podemos identificar todos esses elementos. Alianças são facilmente entendidas como "crossover", produzindo "offsprings" que se espalham no ambiente político mais ou menos, de acordo com seu poder de adaptação. Mutações também têm seu paralelo. Mudanças de opinião, traições e reestruturação de coligações são entendidas dentro desse conceito.
 Da mesma forma, também se manifestam processos bem conhecidos e que ocorrem à larga na natureza: o mutualismo (que as alianças podem ser enquadradas também nesse conceito) e o parasitismo.
O parasitismo é um processo complexo e bastante sofisticado, tanto na natureza, quanto no poder. Pode-se dizer que os predadores são determinadas formas de parasitas, mas eu acho que o parasitismo puro é algo um pouco mais sofisticado. São entes que atuam de forma específica e são bem mais sutis que os chamados predadores. Matematicamente, dizemos que as parasitas atuam na função de adaptação da espécie alvo, gerando um processo complexo de refinamento no fenotipo de ambas as espécies, a das parasitas e a da espécie alvo. Dizem que a reprodução sexuada surgiu como eficaz meio de enganar parasitas. Com isso, deve-se reconhecer o papel positivo do parasitismo uma vez que a reprodução sexual representou um grande impulso na evolução natural.
Uma característica notável do parasitismo é que o hospedeiro, o indivíduo atacado, não se dá conta do que lhe ocorre. Assim, ele carrega a parasita consigo para sua colônia e facilita a sua disseminação entre outros membros de sua comunidade.
O poder é um ótimo nicho para o parasitismo evoluir. Não importa a forma como se galga o poder, é para ele que acorre todo candidato a cumprir o papel de parasita: oportunistas, carreiristas, arrivistas, se caracterizam por ter pouco ou nenhum compromisso com o conjunto da sociedade, buscando tão somente a forma mais eficaz e fácil de se encastelar e usufruir do poder, sem que cumpra qualquer obrigação ou contrapartida por ali estar.
E como nos processos vitais, criam nicho para melhor se perpetuar, e assim criam, no poder, as condições para não mais deixá-lo.
Enquanto elegemos aqueles que pensamos que vão nos governar, na verdade, elegemos tão somente aqueles que serão os "hospedeiros", quem será manipulado por aqueles que se especializam em se instalar e perpetuar no poder.
O sistema de poder é complexo e exige saber, conhecimento e experiência para controlá-lo. Com eleições periódicas, é comum vermos um revezamento de poder que parece acelerar e alimentar o parasitismo. Sistemas ditadoriais ou monárquicos são ambientes em que o parasitismo se instala mais lentamente, mas é, igualmente, incontornável. Nesses sistemas de poder, o parasitismo, quando se instala, se torna ainda mais estável.
Quanto mais permissivo é o sistema legal, mais vulnerável ao parasitismo é o sistema de poder. Quanto mais "ideológico" é o grupo que assume os postos de poder político, mais vulnerável ao parasitismo. Baseados em discursos, esses "ideológicos" não se dão conta que assumir discursos é a tarefa mais fácil dos carreiristas. Esses, não têm qualquer escrúpulo em discursar o que for preciso para angariar a simpatia dos altos postos e assim, mais facilmente, tirar proveito e manipular as pessoas nesses postos.
Como é característica do parasitismo, os hospedeiros não percebem que estão infectados. Para eles, estamos no melhor dos mundos.
É impossível determinar quando o parasitismo se instalou no Brasil. É possível que venha de períodos coloniais. Mas é possível percebê-lo no período militar. Enquanto estes acreditavam estar "limpando" o Brasil do perigo comunista, os agentes do parasitismo fizeram a festa.
Hoje, no período Lula, esse processo se faz sentir de forma cada vez mais intensa. Para mim, é o que faz muita coisa estranhamente parecer com o período militar.
Podemos dizer que esse parasitismo seria bom, a longo prazo, para o sistema de poder. Eu, pessoalmente, acredito que esse parasitismo mais se parece com o chamado mutualismo ou simbiose, visto na natureza. Quando instalado, esse parasitismo político passa e se reproduzir no interior do poder. É o que faz a diferença entre o parasitismo e a simbiose. Enquanto se serve do próprio sistema de poder, o processo torna-se simbiótico. Fortalece-se enquanto consolida o sistema de poder.
É. Acho que não temos chance.

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