domingo, 27 de junho de 2010

Gaspari quer que dinheiro dos planos vão para o SUS

Elio Gaspari sustenta que o SUS seja ressarcido pelo atendimento a clientes da rede privada, quando esses são atendidos na rede pública. É má intenção ou falta massa encefálica a Gaspari? Será que ele se esquece que aqueles que são atendidos no SUS, clientes de redes privadas, também recolhem para a securidade social? Tenho plano de saúde privado porque a REDE PÚBLICA é insuficiente para atender minhas necessidades. Ainda que eu recolha um valor DUAS VEZES o SALÁRIO que pago a minha empregada doméstica e seja SEIS VEZES o valor que pago ao meu plano de saúde privado, vem o Sr. Gaspari, do alto de seu pedestal, inventar que os planos privados "se aproveitam" do SUS! Vá lamber sabão prá ver se sai espuma do ouvido, Sr. Gaspari - o populista!

sábado, 19 de junho de 2010

Temporão e o Twitter da Lei Seca

O Ministro Temporão disse que o Twitter da Lei Seca não adianta nada. Que as "#BOLS" estariam derrotando as estatísticas nefastas de trânsito. Isso indica bem o que pensam nossos governantes. Eles não sacam que o TLS não está aí para derrotar o que quer que seja. Não se trata de uma iniciativa nefasta e para fazer apologia do crime. o Twitter está aí para ajudar aqueles que bebem e se mantém (ou até se tornam mais) responsáveis. Aqueles que tomam seus "golinhos" e retornam calma e tranquilamente para seus lares sem ameaçar ninguém. Para esses, nossas autoridades não estão nem aí. Twitter neles, garotada!

Saramago vai prô céu

Todos nós estamos aqui em clima de homenagem ao bom velhinho idealista que foi Saramago. Jornais falam de sua intransigência com a injustiça, com os "males" do capitalismo. Falamos também de sua lealdade ao Partido Comunista Português, que só se compara com a fidelidade de Oscar Niemeyer ao comunismo. Reverencia-se, com toda justiça, seus atributos literários, do rigor, da justa premiação com o Nobel e Camões, ambas esnobadas por ele, como convém. Há de se notar, também, sua conveniente intolerância com as religiões, "o maior mal da humanidade", segundo ele, em completa sintonia com o pensamento "moderno", um misto do evolucionismo "radical" de Richard Dawkins, com o "revolucionarismo" ortodoxo de Fidel Castro. Conveniente. Olhando bem a situação, acho que não existe ninguém mais policamente correto do que José Saramago. Nem Oscar Niemeyer. E ele morre uma morte politicamente correta também, em uma cidade espanhola, depois que o governo português deu, de bandeja, mais um motivo para um protesto conveniente. Até a Igreja Católica solta um comunicado homenageando Saramago.
Não há autor de língua portuguesa mais conveniente para ser contemplado com o Nobel do que José Saramago. É erudito, formal e sobretudo, português. Em seu "Navegação de Cabotagem", Jorge Amado interpreta a sua própria não indicação ao fato dele ser "de orientação comunista". Devido a um mal entendido envolvendo ele, Jorge Amado, um influente jurado sueco (ou será norueguês?) do prestigioso prêmio nórdico e um colega espanhol em um juri de um prêmio literário. Parece que Jorge Amado foi, injustamente, marcado como "favorecedor" de esquerdistas e assim, em retaliação, dançou nas indicações ao Nobel. É bem verdade que ele mesmo também esnobava o prêmio. Também Drumond teria sido protelado, segundo se diz, porque sua poesia encontrou a barreira da língua. Parece que as subversões literárias de Drumond não têm tradução nas línguas que os nórdicos entendem. Afinal, essa língua neolatina de uma comunidade internacional de peso relativamente pequeno, não teria muito espaço na literatura internacional. Neolatino, por neolatino, é preferível o francês, o mais teutônico (ou nórdico) dos idiomas latinos.
Saramago é uma autor erudito. Suas construções são rigorosas e difíceis. Esse é mais um atributo conveniente para sua premiação. Saramago é um chato. Erudito por erudito, rigoroso por rigoroso, prefiro João Cabral de Mello Neto. Poeta, erudito e rigoroso: e não é chato. Renegou seu "Morte e vida Severina", por ter sido encomendado, com orientação popular. Uma obra prima. Mas Joao Cabral não foi conveniente o suficiente para uma indicação. Por que?
Conferir prêmio Nobel é um ato essencialmente político. Uma forma do parlamento norueguês (ou será sueco?) exprimir suas opiniões e tentar fazer pender o pêndulo para onde lhe interessa. Assim dá-se o prêmio a um  Soljenitsin porque ele denuncia os desmandos da ditadura soviética. Precisa-se condenar a ditadura argentina? Dá-se o prêmio a Adolfo Esquivel. Dar um prêmio a um brasileiro? Qual seria a mensagem política a ser dada? Um desprestígio a Portugal, país europeu e amigo, afinal. Recorde-se das alianças entre portugueses e vickings...
Não que os laureados não mereçam. Todos fizeram coisas que os levaram ao prêmio. Menos, talvez, Barack Obama, que foi contemplado numa espécie de crédito de merecimento. Ele  não fez nada ainda. Mas o fará. Mas, dentre os candidatos, escolhe-se o que mais convém à política dos noruegueses (ou serão suecos?). É como o processo de escolha da Miss Universo, uma espécie de Nobel da beleza feminina.
Saramago, um ateu visceral, crítico da Igreja Católica, homenageado por ela própria? Por que será? Se abrirmos a lente, para uma panorâmica, podemos entender por que. Saramago, na resenha d'O Globo, teria dito que cedo ou tarde veremos que o capitalismo é uma falsa promessa, que o socialismo é a resposta para a humanidade. Ah é? Falsa promessa de quem, cara pálida? Para Saramago, capitalismo e socialismo é uma questão de opção. Se inventaram o socialismo, certamente alguém inventou o capitalismo. Se pararmos para pensar no que diz Saramago, veremos que seu discurso se assemelha ao de Jesus Cristo. Aliás, Saramago tirou Jesus de seu pedestal divino e o realocou por entre os mortais. E assim, o coloca como seu parceiro filosófico. A Igreja (que não é boba, já que existe há 2000 anos), entendeu isso. Saramago estava mais próximo da Igreja do que pensava. Para ela, ele faz parte de seus hostes. Saramago vai prô céu.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Cora Rónai e a lei do silêncio

Cora Rónai coloca muito bem a questão da lei do silêncio. As pessoas têm o direito de descansar, sobretudo se estão acomodadas em seus "cantos", isto é, residências. Ela ainda acrescenta a queixa de uma moradora que é importunada até altas horas pelo barulho de um boteco, que por sinal, nem alvará de funcionamento tem. O secretário municipal de qualquer coisa correlata, garante, na frente de uma grande platéia, quando questionado, que isso não passará em brancas nuvens, que tomará medidas imediatas para resolver essa questão. Doce ilusão a nossa, Cora. O tal secretário é um político, e como tal, está usando o cargo com o único propósito de subir na carreira. O tal boteco, se funciona sem alvará, é porque o dono está molhando a mão de alguém. Já que funciona sem alvará, não custa ignorar outras "leizinhas", tais como a do silêncio. É assim que o Brasil funciona. Um pequeno delito, já abre portas para outros delitos, afinal, dá-se um jeitinho, e fica tudo bem. Os que se queixam são taxados de "chatos", atrasados, ignorantes, e, por que não, "classe média".
O tal secretário nem vai tentar mexer nisso. Provavelmente iria meter a mão em saco de gato, pois a fiscalização da prefeitura deve ser uma toca de raposa mafiosa. Se o tal secretário tentasse, provavelmente seria ameaçado de morte. Sabendo disso, e nada podendo dizer em público, só lhe resta tentar sair bem na fotografia e cuidar da própria carreira.
Se não gosta assim, Cora, vai morar na Itália.

terça-feira, 13 de abril de 2010

O pedófilo de Luziana

A Vara de Execuções Penais do Tribunal de Justiça de Brasília disse que "não havia como antever" que um pedófilo, que já havia estuprado dois garotos de 11 e 12 anos, pudesse estuprar e matar 6 adolescentes. Um técnico de nível médio em estatística poderia lhes dizer, senhores juízes!!! Pudera, com o "psicólogo" dando o prognóstico de que o dito "mostrava polidez, coerência de pensamento e crítica sobre os crimes que havia cometido". Francamente, com todas as críticas que podemos fazer à psicologia do FBI americano, ela é infinitamente melhor do que essa psicologia praticada nos fóruns do Brasil.
Eu acho que esses juízes e esse/a psicólogo/a são cúmplices.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Brecht e o Brasil de hoje

A história que contei hoje, ilustra, de forma apavorante, o que vem se intensificando no Brasil já há um certo tempo. É bem verdade que não começou com o governo Lula, mas nele, intensificou-se. Já dizia, alguns meses depois da posse de Lula, em 2002, que, estranhamente, o estado das coisas me lembravam os tempos dos militares. Hoje, sou capaz de ver que, além da falta de governo (naquele tempo os militares mais sabiam bater do que comandar), há, naquele tempo, e hoje, uma desconexão entre as instâncias superiores e aquelas que se ocupam do serviço propriamente dito. Pouco a pouco, a demagogia e, o que é pior, a hipocrisia se instalam. Cinistmo e dissimulação: não foi o que me aterrorizou no filme "A Fita Branca"? (ver texto anterior meu).
Então, mais do que nunca, a sequência de Brecht se aplica ao Brasil desses nossos tempos:
"No início foi alguém da outra rua. E eu me calei. Depois foi um vizinho. E eu me calei. Depois foi um parente meu. E eu me calei. Depois fui eu mesmo. E não havia ninguém para se manifestar".

PF (Primeiro de Abril na Federal)

Parece conto de primeiro de abril. Não é. Acontece que consegui agendar a solicitação de passaporte para ... primeiro de abril! Na Delegacia da PF no Shopping Rio-Sul, zona sul do Rio de Janeiro. Parece coisa de primeiro mundo, mas se revelou um primeiro de abril funesto.
Meu horário, 14:30H. Perfeito até aqui. Fui ao Ráscal, almocei e paguei (tenho o ticket do pagamento via cartão registrado às 13:37H), ainda deu tempo de passar no banheiro (previa, por experiência, que seria muito difícil ser chamado no horário marcado, ficaria feliz se o fosse às 15:30H, mais provável, lá pelas 16H). Cheguei ao local um pouco antes das 14H. Tinha até lugar para sentar!
Espero. Nota-se que o lugar está cheio de cartazes com instruções ao usuário. Não é necessário pedir senha, "você será chamado".  Coisas da tecnologia, pensei eu. E diante da sensação de eficiência, aguardei com paciência. É verdade que eu não esperava que me chamassem no horário. Tal destreza é muito, afinal.
Inicialmente pensei que fosse a moça no balcão da frente quem chamaria. Estava enganado. Era apenas para aqueles que vinham apanhar o passaporte pronto. Uma porta a direita se abriu. Uma mulher chama um nome. Um monte de gente se agrupa. Fazem perguntas, ela responde com uma leve impaciência. "Você chegou atrasado. Não atendeu o nome, espere uma nova chamada". Lembrei-me da situação extrema que me encontrei, na França, quando me equilibrava no meio de "arabes" para ver se ouvia meu nome ser chamado, em frente a um balcão semelhante àquele da mocinha da PF do Rio-Sul. Coisa da cultura. A "mocinha francesa", naquela ocasião, gritava para todos se sentarem. Inútil. Os "arabes" se amontoavam em frente do balcão como crianças a espera de doces. O jeito era se misturar a eles, do contrário você perdia a chamada, pois não existia sistema de som. Era pela goela que se chamava (burocracia: palavra de origem francesa, para significar uma coisa que, afinal, foi inventada lá, na França, onde eles se mantém no máximo da perfeição no assunto).
São 14:30H. Como era de se esperar, tudo está atrasado. Pessoas continuam se acumular quando a tal mulher aparece. As respostas são impessoais e a leve impaciência se mostrando. Até aqui, penso que as pessoas ainda precisam se acostumar com o sistema, que se apresenta mais eficiente que no passado. Não sabia o quanto estava enganado.
Pelo que pude constatar, há mais de um para cada horário. Não sei quantos. Mais de dois, sei com certeza.
15:30H. Uma mulher que me pareceu agendada para 14:45H, pois ela perguntou anteriormente, e recebeu resposta, foi chamada. Vem a sensação desagradável que fui "esquecido". Quando ela sai, passa por mim, e eu pergunto. Tenho razão. O horário das 14:30 já tinha sido "superado". Espero pacientemente pelo reaparecimento da tal mulher e vou perguntar. Resposta: "Já foi chamado. O senhor não ouviu". Como?
Há coisas com o quê eu lido mal. Uma delas é a mentira. Sobretudo de gente investida de alguma autoridade. A transparência é um conceito arraigado em mim. Não sei desde quando, talvez tenha sido impregnado em mim pelos meus pais, sem que o soubessem. Lembro-me com clareza da indignação que senti diante da manchete em uma banca de jornal, no dia infame de dezembro de 68, a notícia da promulgação do AI-5. Eu nem sabia bem o que era, mas a lista das coisas que estavam proibidas, da cassação da cidadania de um tanto de gente me deixou furioso, revoltado e impotente.
Intuí, imediatamente, que algo de muito errado estava acontecendo ali. Ora, sou uma pessoa de mais de 50 anos de idade. Tenho uma vivência razoável. Já me meti em confronto com tropa de exército, durante a ditadura. Já discuti com policial francês da CRS, a temida tropa de choque de dispersão de multidões, em Paris. Já me expliquei para agente da polícia de fronteira em Heathrow, com suas perguntas absurdas. Acredita aquela mulher, provavelmente terceirizada, na delegacia da PF no Rio-Sul, que pode me intimidar?
Do bate-boca que se seguiu, uma certeza se mostrou: a prática de "pular" gente, sob pretextos absurdos tinha como objetivo não comprometer uma meta de produtividade. Diante de uma provável auditoria, na incapacidade de atender a todos no horário estabelecido, inventa-se que as pessoas "chegam atrasadas", "não ouvem o chamado por estarem distraídas ou porque o 'barulho' de fora é muito alto". Tudo invenção ridícula.
O que mais me faz espécie é constatar que o brasileiro não reage. Diante de situações de evidente arbitrariedade, o brasileiro, resignado, aceita passivamente o que lhe é imposto sem reclamar. Prefere jogar o jogo do poder e culpar a vítima. Aí vem a causa maior dos desmandos do país. Não se reage diante da corrupção (passeata na rua não adianta), não se reage diante de assalto, de violência, de transgressão dos direitos humanos, da má qualidade das mercadorias etc.
Sento-me, inconformado. Tem gente que me garante que eu serei atendido, as pessoas me olham com perplexidade e, alguns, com certo ódio. Viro-me para todos: "Eu me chamo João Luiz. Alguém aqui presente desde às 2:30H, por acaso, ouviu meu nome ser chamado?" Alguém, lá trás responde. Estou aqui desde às 2:15H. Meu filho está para ser chamado e chama-se João. Então estou atento ao nome e posso garantir que a palavra João não foi pronunciada. Então respondi em bom som que eu já tinha, pelo menos, uma testemunha. A mulher, na minha frente me diz que seu filho chama-se Mateus, está desde 45min antes de seu horário e quando foi verificar, a resposta, simplesmente, foi: você chegou atrasado. Desmascarada, a mulher, em alto tom, no interior da sala, fez-se ouvir que as pessoas não ouvem por causa do barulho externo. Em tom equivalente, comentei que se podíamos ouvir de lá, onde ela estava, imagine quando ela abria a porta e procedia em tom mais alto a chamada.
Justamente quando a dita mãe de Mateus lhe dizia para não reclamar, pois "poderiam nao atender", aparece uma mulher na mesma porta, de aspecto mais simpático, e chama: "João". João de quê, pergunto eu. Tem mais de um João, continuo. Pacientemente a mulher procura na lista e diz: João Luiz. As pessoas, perplexas.
Lá dentro, peço desculpas. A mulher defende a outra. Diz que eu fui chamado. Isso me dá a certeza que tem alguma coisa errada, naquela delegacia. Retruco que as pessoas podem se enganar. Manda voltar dia 12 para pegar o passaporte. Saio. As pessoas, em silêncio, me encaram. Os olhares são de perplexidade, ódio e horror. Nenhum, de admiração, nenhum, de simpatia.
-Sofram! Como diria uma oficial bombeiro, conhecida minha. A ocasião não era a mesma, mas dá vontade de aplicar nesse caso. Povinho b....