quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Os Mandamentos da Inovação que nunca vigoraram em nosso Patropi

 Estou lendo, da dupla Victor W. Wang & Greg Horowitt, "The Rainforest: The Secrets to Building the Next Silicon Valley", um debate sobre o que fazer e não fazer para gerar um ambiente de inovação como aquele que se viu, ou ainda se vê, no Silicon Valley, região da California exemplo desta virtude. Os autores usam o termo "rainforest", mal traduzindo, "floresta tropical", como metáfora para a via da inovação. "Numa eira bem controlada, vemos uniformidade, qualidade, mas é só. Ali nunca encontraremos coisa inédita", dizem os autores, para exemplificar que um ambiente de inovação só é possível onde ordem não encontra espaço para prosperar. Eis aqui a primeira contradição, no que nos diz respeito. Está na nossa bandeira: Ordem e Progresso. Pois bem, depreendemos dos autores que, se queremos progresso, não há de se impor ordem. A propósito, encontrei hoje no texto de Cora Rónai o termo 'oximoro'. Ela se referia à expressão "bolsonarista inteligente" (eu acrescentaria, no mesmo contexto, "petista razoável"). Então, eis a definição que cabe como uma luva no lema de nossa bandeira. Trazemos o oximoro original: Ordem e Progresso não combinam. Em si, já definem nosso país paradoxal.

Voltando ao livro. Estou no ponto em que os autores definem os mandamentos visíveis e escondidos para que apareça um ambiente de inovação, tão desejado porque - malgrado o pensamento que vige em nossos mandantes, da direita e da esquerda, que riqueza se acha sob os pés, ou se fabrica em monstruosas máquinas de aço - seria o caminho de nossa redenção. Vou listá-los aqui. Os autores usam aquele inglês Shakespeariano. Ainda mal traduzindo (os puristas que procurem no original), sigo a regra:

1 - Educarás o povo;

2 - Desenvolverás os bens públicos necessários (estradas, pontes, polícia, tribunais, forças armadas etc);

3 - Investirás em ciência e tecnologia para gerar mais conhecimento e descobrimento;

Agora vem o que não fazer:

4 - Não criarás regulações impeditivas;

5 - Não permitirás corrupção;

6 - Não interferirás na liberdade de contratos;

7 - Não permitirás que a inflação fuja do controle.

Apresentados como libelo necessário pelos economistas clássicos, dizem os autores, esses "Mandamentos" se caracterizam em determinar o ambiente do "homus economicus", base liberal com que esses economistas julgam necessário e suficiente para o bom desenvolvimento econômico. No entanto, nossos autores dizem que isso não é "suficiente". Talvez o necessário. 

Assim, eles avançam na direção dos mandamentos "escondidos". Mas eu fico por aqui. Wang & Horowitt prestam consultoria a um sem-número de governos dentro e fora dos Estados Unidos por terem estudado a fundo o fenômeno que marcou o Silicon Valley desde a década de 1980. Fazem incursões não só na economia, mas na antropologia, sociologia, ciências sociais de forma geral, como também em psicologia. Têm sido essenciais na introdução e aperfeiçoamento de novos ambientes inovativos como em Jersey e Israel. Suas palestras são disputadas a tapa pelo mundo inteiro, pelo menos aquela parte do mundo onde há interesse e espaço para inovação.

Eu me pergunto: e o Brasil? Olhando para os mandamentos "clássicos" já vejo que, pelo paradoxismo que marca nossa essência, negamos os três primeiros e afirmamos os quatro últimos, justamente o contrário do que devia ser. E nem entramos no debate daqueles mandamentos escondidos, que, segundo os autores, são os que nos levariam a sermos realmente inovadores.

Teríamos que mudar o lema de nossa bandeira: Progresso Por Favor, esquece a Ordem.

É, acho que não vai dar certo. 

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